Sobre o CEPESC

Salvador, Bahia, Brazil
CEPESC - Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. Nasceu do sonho, da utopia e da luta pela criação de um entidade que refletisse, a partir da perspectiva cristã e no contexto da diversidade cultural, social e religiosa brasileira e da Bahia, o mundo dos nossos dias de um modo abrangente e total, ou seja, nas suas dimensões social, econômica, política, educacional e religiosa. Por isso, adotou o lema Dignidade e plenitude da vida e da criação. Organizada em 23 de novembro de 1996, é uma entidade de caráter cultural, educacional, social e religioso. Tem como objetivos estimular, fazer e divulgar pesquisas no campo político, econômico, social, cultural e religioso e realizar trabalhos de educação, sociais, culturais e religiosos. Contato: 3266-5526

quarta-feira, 27 de março de 2013

Pastor Djalma Torres fala sobre intolerância religiosa, ecumenismo e preconceito

Confira a entrevista do Pastor Djalma Torres ao programa Polêmica, da TV Olhos D'Água, da Universidade Estadual de Feira de Santana. Torres falou sobre intolerância, preconceito e se mostrou preocupado com o futuro dos debates e das conversas inter-religiosas. Segundo o pastor, “Há muita coisa bonita no candomblé, assim como há muita coisa bonita no espiritismo... O fato de eu ir a um Terreiro de Candomblé, de ser amigo de uma Yalorixá ou de ser amigo de um líder espírita, não diminui a minha fé. Eu agradeço muito a Deus o privilégio de viver esta experiência.”             



quarta-feira, 20 de março de 2013

Foto de Marco Feliciano no Instagram vira motivo de chacota nas redes sociais





Uma foto publicada no Instagram do pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, virou motivo de chacota nas redes sociais nesta segunda-feira. Datada de 23 semanas atrás, a imagem mostra o pastor provavelmente alisando os cabelos. No título da imagem, a frase: “Momento descontração...Raridade!!!”, seguida de mais de 650 comentários - até o início desta noite-, a maioria zombando do parlamentar e chamando Feliciano de "bicha", "diva", "bee" e "mona", entre outros. Conhecido por declarações polêmicas sobre negros e homossexuais, o pastor responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por homofobia e estelionato.
Os comentários no Instagram satirizavam, principalmente, o trato nas madeixas, molhadas. Dentre as frases dos internautas, "Pronta pra bater cabelo na boate”, “tá linda bee” e “arrasou na progressiva...vai pega (sic) os bofe (sic) tudo na balada”. A foto também é uma das mais compartilhadas no Facebook.
Feliciano aparece em uma outra foto no Instagram, com vários comentários que ironizam a sexualidade do pastor. Na imagem, o parlamentar está sentado sobre uma poltrona vermelha, com um paletó da mesma cor. “Que pintosa”, escreveu um usuário da rede. Um outro comentou: "Poderosa, atrevida".

Marco Feliciano diz que direitos das mulheres atingem a família

Marco Feliciano

RIO - As críticas do atual presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano (PSC-SP), avançam também em outra direção: o direito das mulheres. Em entrevista para o livro "Religiões e política; uma análise da atuação dos parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e LGBTs no Brasil", ao qual O GLOBO teve acesso, o deputado critica as reivindicações do movimento feminista e afirma ser contra as suas lutas porque elas podem conduzir a uma sociedade predominantemente homossexual.
"Quando você estimula uma mulher a ter os mesmos direitos do homem, ela querendo trabalhar, a sua parcela como mãe começa a ficar anulada, e, para que ela não seja mãe, só há uma maneira que se conhece: ou ela não se casa, ou mantém um casamento, um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo, e que vão gozar dos prazeres de uma união e não vão ter filhos. Eu vejo de uma maneira sutil atingir a família; quando você estimula as pessoas a liberarem os seus instintos e conviverem com pessoas do mesmo sexo, você destrói a família, cria-se uma sociedade onde só tem homossexuais, você vê que essa sociedade tende a desaparecer porque ela não gera filhos", diz ele na página 155, em declaração dada em junho de 2012.
Para o pesquisador Paulo Victor Lopes Leite, do Instituto de Estudos da Religião (Iser), um dos autores do estudo, a posição de Feliciano não é exceção: reflete o pensamento majoritário defendido pelos integrantes da Frente Parlamentar Evangélica.
- Constatamos que os parlamentares evangélicos trabalham com a ideia de pânico moral, que se manifesta sempre que qualquer atitude ou comportamento se mostra diferente do conceito de família patriarcal, com pai, mãe e filhos. É a ideia de pânico moral que faz com que rejeitem qualquer transformação natural da sociedade, como o casamento igualitário e a necessidade de se discutir a legalização do aborto - avalia.
As afirmações de Feliciano causaram revolta nos movimentos feministas. Para Hildete Pereira de Melo, professora da UFF e pesquisadora de relações de gênero e mercado de trabalho, as convicções do parlamentar são atrasadas porque não acompanham as necessidades da sociedade.
- Ele é misógino e homofóbico. Desde a invenção da pílula anticoncepcional, os casais heterossexuais podem manter vida sexual ativa sem que a gravidez ocorra. Atribuir aos homossexuais a responsabilidade pela destruição da família é um delírio. A destruição tem como culpado o homem, que sai de casa e abandona os filhos quando o relacionamento termina. É preciso entender que os filhos são responsabilidade do casal, e não apenas da mulher - critica.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A entrevista de Boff sobre Bento XVI que a Folha engavetou

Leonardo Boff



Teólogo revela, na íntegra, respostas em que narra passagens centrais de sua convivência com Papa — inclusive quando o teve como inquisidor. Jornal escondeu texto precioso.

Por Leonardo Boff, em seu blog

Dei generosamente uma entrevista à Folha de São Paulo que quase não aproveitou nada do que disse e escrevi. Então, publico a entrevista inteira a seguir para reflexão e discussão entre os interessados pelas coisas da Igreja Católica. As perguntas foram reordenadas.

1. Como o Sr. recebeu a renúncia de Bento XVI?
Eu, desde o principio, sentia muita pena dele, pois pelo que o conhecia, especialmente em sua timidez, imaginava o esforço que devia fazer para saudar o povo, abraçar pessoas, beijar crianças. Eu tinha certeza de que um dia ele aproveitaria alguma ocasião sensata, como os limites físicos de sua saúde e o menor vigor mental, para renunciar. Embora mostrou-se um Papa autoritário, não era apegado ao cargo de Papa. Eu fiquei aliviado, porque a Igreja está sem liderança espiritual que suscite esperança e ânimo. Precisamos de um outro perfil de Papa mais pastor que professor, não um homem da instituição-Igreja, mas um representante de Jesus que disse: “se alguém vem a mim eu não mandarei embora” (Evangelho de João 6,37), podia ser um homoafetivo, uma prostituta, um transexual.

2. Como é a personalidade de Bento XVI já que o Sr. privou de certa amizade com ele?
Conheci Bento XVI nos meus anos de estudo na Alemanha entre 1965-1970. Ouvi muitas conferências dele, mas não fui aluno dele. Ele leu minha tese doutoral: “O lugar da Igreja no mudo secularizado” e gostou muito a ponto de achar uma editora para publicá-la, um calhamaço de mais de 500 páginas. Depois trabalhamos juntos na revista internacional Concilium, cujos diretores se reuniam todos os anos na semana de Pentecostes em algum lugar na Europa. Eu a editava em português. Isso entre 1975-1980. Enquanto os outros faziam sesta, eu e ele passeávamos e conversávamos temas de teologia, sobre a fé na América Latina, especialmente sobre São Boaventura e Santo Agostinho, do quais é especialista e eu até hoje os frequento a miúde.
Depois, em 1984, nos encontramos num momento conflitivo: ele como meu julgador no processo do ex-Santo Ofício, movido contra meu livro Igreja: carisma e poder (Vozes 1981). Ai tive que sentar na cadeirinha onde Galileo Galilei e Giordano Bruno, entre outros, sentaram. Submeteu-me a um tempo de “silêncio obsequioso”; tive que deixar a cátedra e fui proibido de publicar qualquer coisa. Depois disso nunca mais nos encontramos. Como pessoa é finíssimo, tímido e extremamente inteligente.

3. Ele como Cardeal foi o seu Inquisidor depois de ter sido seu amigo: como viu esta situação?
Quando foi nomeado Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Inquisição) fiquei sumamente feliz. Pensava com meus botões: finalmente teremos um teólogo à frente de uma instituição com a pior fama que se possa imaginar. Quinze dias após me respondeu, agradecendo e disse: vejo que há várias pendências suas aqui na Congregação e temos que resolvê-las logo. É que praticamente a cada livro que publicava vinham de Roma perguntas de esclarecimento que eu demorava em responder. Nada vem de Roma sem antes de ter sido enviado a Roma.
Havia aqui bispos conservadores e perseguidores de teólogos da libertação que enviavam as queixas de sua ignorância teológica a Roma a pretexto de que minha teologia poderia fazer mal aos fiéis. Ai eu me dei conta: ele já foi contaminado pelo bacilo romano que faz com que todos os que ai trabalham no Vaticano rapidamente encontrem mil razões para serem moderados e até conservadores. Então, sim, fiquei mais que surpreso, verdadeiramente decepcionado.

4. Como o Sr. recebeu a punição do “silêncio obsequioso”?
Após o interrogatório e a leitura de minha defesa escrita, que está como adendo da nova edição de Igreja: carisma e poder (Record 2008), são 13 cardeais que opinam e decidem. Ratzinger é um apenas entre eles. Depois submetem a decisão ao Papa. Creio que ele foi voto vencido, porque conhecia outros livros meus de teologia, traduzidos para alemão, e me havia dito que tinha gostado deles, até, uma vez, diante do Papa numa audiência em Roma fez uma referência elogiosa. Eu recebi o “silêncio obsequioso” como um cristão ligado à Igreja o faria: calmamente o acolhi. Lembro que disse: “é melhor caminhar com a Igreja que sozinho com minha teologia”. Para mim foi relativamente fácil aceitar a imposição, porque a Presidência da CNBB me havia sempre apoiado e dois Cardeais, Dom Aloysio Lorscheider e Dom Paulo Evaristo Arns, me acompanharam a Roma e depois participaram, numa segunda parte, do diálogo com o Cardeal Ratzinger e comigo. Ai éramos três contra um. Colocamos algumas vezes o Cardeal Ratzinger em certo constrangimento, pois os cardeais brasileiros lhe asseguravam que as críticas contra a teologia da libertação que ele fizera num documento saído recentemente eram eco dos detratores e não uma análise objetiva. E pediram um novo documento positivo; ele acolheu a ideia e realmente o fez dois anos após. E até pediram a mim e ao meu irmão teólogo Clodovis, que estava em Roma, que escrevêssemos um esquema e o entregássemos na Sagrada Congregação. E num dia e numa noite o fizemos e o entregamos.

5. O Sr deixou a Igreja em 1992. Guardou alguma mágoa de todo o affaire no Vaticano?
Eu nunca deixei a Igreja. Deixei uma função dentro dela, que é de padre. Continuei como teólogo e professor de teologia em várias cátedras aqui e fora do país. Quem entende a lógica de um sistema autoritário e fechado, que pouco se abre ao mundo, não cultiva o diálogo e a troca (os sistemas vivos vivem na medida em que se abrem e trocam), sabe que se alguém, como eu, não se alinhar totalmente a tal sistema, será vigiado, controlado e eventualmente punido. É semelhante aos regime de segurança nacional que temos conhecido na América Latina sob os regimes militares no Brasil, na Argentina, no Chile e no Uruguai. Dentro desta lógica, o então Presidente da Congregação da Doutrina da Fé (ex-Santo Oficio, ex-Inquisição), o Cardeal J. Ratzinger, condenou, silenciou, depôs de cátedra ou transferiu mais de cem teólogos. Do Brasil fomos dois: a teóloga Ivone Gebara e eu. Em razão de entender a referida lógica, e lamentá-la, sei que eles estão condenados a fazer o que fazem na maior das boas vontades. Mas como dizia Blaise Pascal: “Nunca se faz tão perfeitamente o mal como quando se faz de boa vontade”. Só que esta boa vontade não é boa, pois cria vítimas. Não guardo nenhuma mágoa ou ressentimento, pois exerci compaixão e misericórdia por aqueles que se movem dentro daquela lógica que, a meu ver, está a quilômetros luz da prática de Jesus. Aliás é coisa do século passado, já passado. E evito voltar a isso.

6. Como o Sr. avalia o pontificado de Bento XVI? Soube gerenciar as crises internas e externas da Igreja?
Bento XVI foi um eminente teólogo, mas um Papa frustrado. Não tinha o carisma de direção e de animação da comunidade, como tinha João Paulo II. Infelizmente ele será estigmatizado, de forma reducionista, como o Papa onde grassaram os pedófilos, onde os homoafetivos não tiveram reconhecimento e as mulheres foram humilhadas como nos EUA, negando o direito de cidadania a uma teologia feita a partir do gênero. E também entrará na história como o Papa que censurou pesadamente a Teologia da Libertação, interpretada à luz de seus detratores, e não à luz das práticas pastorais e libertadoras de bispos, padres, teólogos, religiosos/as e leigos que fizeram uma séria opção pelos pobres contra a pobreza e a favor da vida e da liberdade. Por esta causa justa e nobre foram incompreendidos por seus irmãos de fé, e muitos deles presos, torturados e mortos pelos órgãos de segurança do Estado militar. Entre eles estavam bispos como Dom Angelelli, da Argentina, e Dom Oscar Romero, de El Salvador. Dom Helder foi o mártir que não mataram. Mas a Igreja é maior que seus papas e ela continuará, entre sombras e luzes, a prestar um serviço à humanidade, no sentido de manter viva a memória de Jesus, de oferecer uma fonte possível de sentido de vida que vai para além desta vida. Hoje sabemos pelo Vatileaks que dentro da Cúria romana se trava uma feroz disputa de poder, especialmente entre o atual Secretário de Estado Bertone e o ex-secretário Sodano, já emérito. Ambos têm seus aliados. Bertone, aproveitando as limitações do Papa, construiu praticamente um governo paralelo. Os escândalos de vazamento de documentos secretos da mesa do Papa e do Banco do Vaticano, usado pelos milionários italianos, alguns da mafia, para lavar dinheiro e mandá-lo para fora, abalaram muito o Papa. Ele foi se isolando cada vez mais. Sua renúncia se deve aos limites da idade e das enfermidades, mas foram agravadas por estas crises internas que o enfraqueceram e que ele não soube ou não pode atalhar a tempo.

7. O Papa João XXIII disse que a Igreja não pode virar um museu, mas uma casa com janelas e portas abertas. O Sr. acha que Bento XVI não tentou transformar a Igreja novamente em algo como um museu?
Bento XVI é um nostálgico da síntese medieval. Ele reintroduziu o latim na missa, escolheu vestimentas de papas renascentistas e de outros tempos passados, manteve os hábitos e os cerimoniais palacianos; para quem iria comungar, oferecia primeiro o anel papal para ser beijado e depois dava a hóstia, coisa que nunca mais se fazia. Sua visão era restauracionista e saudosista de uma síntese entre cultura e fé, que existe muito visível em sua terra natal, a Baviera, coisa que ele explicitamente comentava. Quando na Universidade, onde ele estudou e eu também, em Munique, viu um cartaz me anunciando como professor visitante para dar aulas sobre as novas fronteiras da teologia da libertação, pediu ao reitor que protelasse esse dia, o convite já acertado. Seus ídolos teológicos são Santo Agostinho e São Boaventura, que mantiveram sempre uma desconfiança de tudo o que vinha do mundo, contaminado pelo pecado e necessitado de ser resgatado pela Igreja. É uma das razões que explicam sua oposição à modernidade, que a vê sob a ótica do secularismo e do relativismo e fora do campo de influência do cristianismo que ajudou a formar a Europa.

8. A igreja vai mudar, em sua opinião, a doutrina sobre o uso de preservativos e em geral a moral sexual?
A Igreja deverá manter as suas convicções, algumas que estima irrenunciáveis como a questão do aborto e da não manipulação da vida. Mas deveria renunciar ao status de exclusividade, como se fora a única portadora da verdade. Ela deve se entender dentro do espaço democrático, no qual sua voz se faz ouvir junto com outras vozes. E as respeita e até se dispõe a aprender delas. E quando derrotada em seus pontos de vista, deveria oferecer sua experiência e tradição para melhorar onde puder melhorar e tornar mais leve o peso da existência. No fundo, ela precisa ser mais humana, humilde e ter mais fé, no sentido de não ter medo. O que se opõe à fé não é o ateísmo, mas o medo. O medo paralisa e isola as pessoas das outras pessoas. A Igreja precisa caminhar junto com a humanidade, porque a humanidade é o verdadeiro Povo de Deus. Ela o mostra mais conscientemente, mas não se apropria com exclusividade desta realidade.

9. O que um futuro Papa deveria fazer para evitar a emigração de tantos fiéis para outras igrejas, e especialmente pentecostais?
Bento XVI freou a renovação da Igreja incentivada pelo Concílio Vaticano II. Ele não aceita que na Igreja haja rupturas. Assim que preferiu uma visão linear, reforçando a tradição. Ocorre que a tradição a partir dos séculos XVIII e XIX se opôs a todas as conquistas modernas, da democracia, da liberdade religiosa e outros direitos. Ele tentou reduzir a Igreja a uma fortaleza contra estas modernidades. E via no Vaticano II o cavalo de Troia por onde elas poderiam entrar. Não negou o Vaticano II, mas o interpretou à luz do Vaticano I, que é todo centrado na figura do Papa com poder monárquico, absolutista e infalível. Assim se produziu uma grande centralização de tudo em Roma sob a direção do Papa que, coitado, tem que dirigir uma população católica do tamanho da China. Tal opção trouxe grande conflito na Igreja até entre inteiros episcopados, como o alemão e francês, e contaminou a atmosfera interna da Igreja com suspeitas, criação de grupos, emigração de muitos católicos da comunidade e acusações de relativismo e magistério paralelo. Em outras palavras, na Igreja não se vivia mais a fraternidade franca e aberta, um lar espiritual comum a todos. O perfil do próximo Papa, no meu entender, não deveria ser o de um homem do poder e da instituição. Onde há poder, inexiste amor e desaparece a misericórdia. Deveria ser um pastor, próximo dos fiéis e de todos os seres humanos, pouco importa a sua situação moral, étnica e política. Deveria tomar como lema a frase de Jesus que já citei anteriormente: “Se alguém vem a mim, eu não o mandarei embora”, pois acolhia a todos, desde uma prostituta como Madalena até um teólogo como Nicodemos.
Não deveria ser um homem do Ocidente que já é visto como um acidente na história. Mas um homem do vasto mundo globalizado, sentindo a paixão dos sofredores e o grito da Terra devastada pela voracidade consumista. Não deveria ser um homem de certezas, mas alguém que estimulasse a todos a buscarem os melhores caminhos. Logicamente se orientaria pelo Evangelho, mas sem espírito proselitista, com a consciência de que o Espírito chega sempre antes do missionário e o Verbo ilumina a todos que vêm a este mundo, como diz o evangelista São João. Deveria ser um homem profundamente espiritual e aberto a todos os caminhos religiosos, para juntos manterem viva a chama sagrada que existe em cada pessoa: a misteriosa presença de Deus. E, por fim, um homem de profunda bondade, no estilo do Papa João XXIII, com ternura para com os humildes e com firmeza profética para denunciar quem promove a exploração e faz da violência e da guerra instrumentos de dominação dos outros e do mundo. Que nas negociações que os cardeais fazem no conclave e nas tensões das tendências, prevaleça um nome com semelhante perfil. Como age o Espírito Santo ai é mistério. Ele não tem outra voz e outra cabeça do que aquela dos cardeais. Que o Espírito não lhes falte.








segunda-feira, 11 de março de 2013

Pastor chama religiosos à ‘batalha’ contra gays




Sob críticas desde que foi escolhido para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) tenta converter a polêmica numa cruzada religiosa. Em panfleto veiculada no Facebook, ele convocou líderes evangélicos e católicos da cidade de Ribeirão Preto e arredores para uma reunião nesta segunda-feira (11).
Valendo-se de linguagem bélica, anotou que o alvo de seus antagonistas não é ele: “Estamos vivenciando a maior de todas as batalhas contra a família brasileira.” Sustenta que é a igreja que “está sendo bombardeada”. Identifica a munição e aponta o inimigo: são “mentiras insinuadas por grupo de bandeira LGTB (gays, lésbicas, bissexuais e travestis)”.
Feliciano chama pastores e padres para a reunião em que se discutirá “o futuro de nossas igrejas diante deste grande embate”. Parece interessado em exibir sua infantaria: “Toda a imprensa estará presente, precisamos mostrar nossa união”, realça o panfleto.

Fonte:http://josiasdesouza.blogosfera.uol




sexta-feira, 8 de março de 2013

Presidente da CDH é acusado de estelionato

Marcos Feliciano


O novo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Marco Feliciano (PSC-SP), é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de estelionato. Ele é acusado de ter inventado um acidente no Rio de Janeiro para justificar a ausência em evento no Rio Grande do Sul, para o qual já havia recebido cachê, passagens e hospedagem.

A vítima sustenta que, ao faltar ao compromisso, Feliciano optou por receber uma remuneração maior no Rio. O deputado nega o estelionato e alega que faltou por “motivos de força maior”. Ele disse ao Congresso em Foco que o “caso é um grande mal-entendido”.

No dia 15 de março de 2008, o Estádio Municipal Silvio de Farias Correia, em São Gabriel (RS), município de 60 mil habitantes, a 320 km de Porto Alegre, reunia 7 mil pessoas para um show gospel. Uma das atrações era a dupla sertaneja Rayssa e Ravel. O encerramento, previsto para as 20h, seria feito pela principal estrela do dia, o pastor Marco Feliciano, presidente da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, sediada em São Paulo. Conhecido pelo estilo enfático de suas pregações, ele atraiu caravanas de cidades vizinhas até São Gabriel.

Dona de uma produtora então recém-criada, a advogada Liane Pires Marques promovia, então, seu primeiro grande evento, o 1º Nettu’s Gospel, que se estendeu por todo aquele sábado. “Fiz publicidade em todo o Rio Grande do Sul, com TV, folhetos e rádios. Era um evento para 15 mil pessoas. Recebi confirmação de caravanas. Paguei cachê e transporte aéreo, tudo o que ele me exigiu. Hotel de primeira categoria”, disse a advogada ao Congresso em Foco nesta quinta-feira (7).

Segundo ela, o acordo foi feito com o pastor André Luis de Oliveira, braço-direito e atual assessor parlamentar de Feliciano na Câmara. Oliveira havia confirmado a presença na véspera do evento. Às 8 horas do dia da apresentação, os dois pastores eram aguardados no aeroporto de Porto Alegre por integrantes da organização do evento gospel. Sem conseguir estabelecer contato com os dois religiosos, eles esperaram até o meio-dia.  Voltaram para São Gabriel sem qualquer explicação.

“O mestre de cerimônia anunciou no microfone que o pastor não compareceu, não cumpriu o contrato e que iríamos tomar as medidas cabíveis. O público vaiou. Depois, a ira se voltou contra mim. Fui xingada”, conta a ex-empresária. Liane diz que perdeu credibilidade e nunca mais conseguiu realizar outro evento. A empresa dela continua registrada, mas inativa.

Foro privilegiado

Ela entrou com processo contra Marco Feliciano na Justiça Criminal e na Justiça Cível. O processo criminal, por estelionato, começou a correr na Vara Criminal de São Gabriel, mas foi deslocado para o Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado por causa da eleição de Feliciano como deputado. A ação penal 612 é relatada pelo ministro Ricardo Lewandowski. Os parlamentares só podem responder criminalmente ao Supremo.

No processo cível (031/108.0000.9509), que ainda tramita na cidade gaúcha, ela reivindica indenização pelos prejuízos que teve. Quatro anos depois do episódio, no ano passado, a juíza que cuida do caso determinou que Marco Feliciano pagasse R$ 13 mil a Liane como devolução do cachê. O deputado pagou. Mas ela cobra mais. “O prejuízo comprovado foi de quase R$ 100 mil na época. Contratei segurança, comprei passagens aéreas. Banquei despesas dele em Porto Alegre. Tive gastos com palco, iluminação, sonorização e a divulgação em todo o estado. Hoje está em quase R$ 2 milhões”, diz a ex-produtora de eventos.

Liane conta que o assessor de Feliciano lhe telefonou para dizer que ele e Feliciano haviam sofrido um acidente no Rio e, por isso, não poderiam viajar até o Rio Grande do Sul. Intrigada com a história, ela diz que pesquisou e não encontrou nenhum registro de acidente no Rio envolvendo os dois pastores. Descobriu mais: “Ele tinha contrato com uma rádio no Rio na sexta (14). E a rádio pediu pra ele ficar mais um dia. Pelo sucesso que ele teve, dobraram o cachê dele, que seria o dobro do meu, para ele ficar no sábado.”

Ludibriar

Autora da denúncia, a promotora de Justiça Ivana Machado Battaglin, de São Gabriel, diz que a marcação de dois eventos, em cidades distantes, caracteriza o crime de estelionato. “No momento em que marca dois eventos para mesma data, é porque ele não pretendia cumprir um deles. Ele tentou ludibriá-la. Ele não é onipresente”, afirmou a promotora ao Congresso em Foco.

A reportagem procurou o deputado, mas não conseguiu localizá-lo. O celular dele estava desligado. Mas, em junho do ano passado, Marco Feliciano declarou à Revista Congresso em Foco que não compareceu ao evento por “motivos de força maior”. “Fui contratado para realização de um show gospel na cidade de São Gabriel. Não pude comparecer por motivos de força maior e minha equipe, em contato com os realizadores do evento, decidiu que outra data seria agendada para comparecimento. Todavia, fui surpreendido pela ação em epígrafe, mas esclareço que os valores pagos pelos idealizadores do evento já foram devidamente restituídos com juros e correções de praxe”, afirmou o deputado à época.

A ex-produtora de eventos diz que Marco Feliciano se recusou, inicialmente, a devolver o cachê. Só o fez durante o andamento do processo cível na Justiça. Em vez de devolver o dinheiro, o pastor propôs fazer uma nova apresentação na cidade. “Meu contrato com ele era para aquele dia. Ele queria que eu montasse toda a estrutura novamente para ele vir. Gastei de R$ 70 mil a R$ 80 mil. Estou terminando de pagar contas ainda este ano. Foi o meu primeiro e único evento”, conta Liane. Advogada, ela deixou a produtora de lado e voltou ao exercício da profissão. “Não tive como seguir diante do que aconteceu. Não tive mais credibilidade. Estou aguardando a Justiça me dar uma sentença favorável para, talvez, um dia voltar”, explica.

Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/presidente-da-cdh-e-acusado-de-estelionato/

Paróquia acusada de dar calote em fiéis


O padre Oscar Donizete Clemente e um grupo de religiosos da paróquia Santa Cruz, de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, são acusados de dar o calote em cerca de 120 pessoas que participariam de uma excursão para o Vaticano. A viagem, marcada a princípio para setembro de 2012 e depois adiada em um mês, foi cancelada e os turistas não receberam o dinheiro de volta.
“A viagem foi paga na secretaria da paróquia e o padre fazia propaganda nas missas”, afirma o jornalista Roger Guilherme de Assis, que tenta recuperar R$ 4 mil. A propaganda era feita na internet pelo site gruporeligioso.com.br. O padre confirma que convidou fiéis na missa para fazer a viagem, mas diz se tratar de um mal entendido.
A viagem, cancelada por excesso de desistências, foi organizada por Waine Valéria Dutra, colaboradora da paróquia. Seu advogado, Siel Faustino, diz que a devolução dos pacotes pelas operadoras demora até 180 dias e garante que Waine ressarciu 80% dos turistas com o próprio dinheiro. “Falta só um grupo de 20 a 30 pessoas para receber”, diz. Outras, segundo ele, questionam apenas o valor já recebido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Como entender o Papado? (Alguns subsídios de ordem histórica)

Eduardo Hoornaert

Logo após a conclusão do concílio Vaticano II, houve intensas discussões acerca do papado. Muitas delas encontraram eco nas páginas da revista Concilium ao longo da década de 1960. Dessas discussões ficou a convicção de que é preciso conhecer melhor a história do papado e evitar os anacronismos (projetar no passado situações presentes) e as afirmações desprovidas de base histórica que permeiam o discurso acerca do governo central da igreja católica. Diante de um tema que toca pontos nevrálgicos do sistema católico e da sensibilidade católica, parece-me importante anotar aqui alguns pontos básicos que costumam chegar à tona quando se fala em papado.

1. Pedro em Roma.

O bispo Eusébio de Cesareia, teórico da política universalista do imperador Constantino, redigiu, no século IV, listas de sucessivos bispos para as principais cidades do império romano, na tentativa de adaptar o sistema cristão ao modelo sacerdotal romano. Ele trabalhou de forma bastante aleatória. Assim ele escreve, por exemplo, que Clemente foi ‘o terceiro bispo de Roma’, depois de Lino e Anacleto. Conhecemos Clemente romano por suas cartas, mas nada sabemos acerca de Lino e Anacleto. Ninguém sabe donde Eusébio tirou esses nomes, trezentos anos após os acontecimentos. Para dar consistência à sua tese de que Pedro é o primeiro papa, Eusébio escreve, no segundo livro (14, 6) de sua ‘História eclesiástica’, que o apóstolo Pedro viajou a Roma no início do reino de Cláudio, ou seja, por volta do ano 44. O que os escritos do novo testamento dizem a esse respeito? Nos Atos dos apóstolos (12, 17) se escreve que Pedro, em 43, saiu de Jerusalém e ‘foi para outro lugar’, sem especificar qual. Os mesmos Atos relatam que Pedro está em Jerusalém no ano 49, por ocasião da visita de Paulo. Nada se diz sobre a atuação do apóstolo entre 43 e 49. O mais provável é que ele tenha viajado à Samaria como exorcista, pois os Atos relatam sua disputa com outro exorcista, de nome Simão Mago, que atuava naquela região. Enfim, as datas propostas por Eusébio não combinam com o que os Atos dos apóstolos relatam. Os historiadores hoje concordam em dizer que Eusébio é um historiador suspeito, pois está envolvido num projeto que tem como finalidade articular a política imperial em relação ao cristianismo e ajustar o movimento cristão a um modelo dinástico de tipo romano. Ele projeta a imagem da igreja no século IV sobre o passado. Por exemplo, ele projeta a repartição territorial das áreas de influência (dioceses), que faz parte da administração romana, aos primeiros tempos do cristianismo, sem nenhuma base historiográfica. Nos capítulos 4 a 7 de sua História Eclesiástica, ele elabora listas de bispos monárquicos que remontam até os apóstolos. Em tudo isso aparece a intenção de acomodar as estruturas cristãs à organização imperial da época. Concluindo podemos dizer que não há base histórica para a afirmação de que Pedro tenha estado em Roma e com isso cai um dos principais fundamentos do discurso oficial acerca do papado.
2. ‘Tu és Pedro’

Hoje, as palavras ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei minha igreja’ figuram em enormes letras no interior da cúpula da basílica de São Pedro, em Roma. Vale a pena observar que se trata aqui de um verso isolado do evangelho de Mateus. Contudo, o sentido do verso só aparece quando é lido em contexto, ou seja, dentro da sequência de quatro versos entre Mt 16, 16-19. O historiador ortodoxo Meyendorff[1] mostra como esses versos foram entendidos nos séculos anteriores a Constantino e à aliança entre as lideranças cristãs e as autoridades do império romano. Trata-se, conforme o historiador, de um elogio de Jesus dirigido a Pedro. Quando este afirma que Jesus não é um profeta entre outros, mas o ungido de Deus, ele mostra que Jesus não segue a tradicional maneira de agir dos profetas do antigo testamento, que ameaçavam e intimidavam as pessoas falando da ira de Deus por causa dos pecados e da necessidade de penitência. Pedro entende que Jesus, que não ameaça nem condena, mas aponta para o reino de Deus, a graça, a misericórdia, o perdão, é diferente. Deve ser o ungido de Deus tão esperado, pensa ele. E Jesus elogia Pedro por expressar de forma tão feliz a novidade que ele mesmo vem trazer. É como se ele quisesse dizer: você capta minha intenção, você é a pedra sobre a qual pretendo construir minha igreja, se todos entendessem o que você diz aqui, minha igreja estaria bem forte.
Eusébio de Cesareia e os demais teólogos comprometidos com a ideologia imperial romana não lêem o verso 18 de seu contexto, o isolam dos demais (vv. 16 a 19) e desse modo dão um significado diferente às palavras de Mateus. Hoje, Eusébio tem de ser severamente criticado (assim como os que o seguem na exegese de Mt 16, 18), pois a exegese atual é taxativa em afirmar que não se pode isolar um texto de seu conjunto literário e transformá-lo em oráculo. Para quem lê os evangelhos em contexto fica claro que não dá para se imaginar que Jesus tenha planejado uma dinastia apostólica de caráter corporativo, baseada em sucessão de poderes.

3. A religião do povo (e dos papas).

Sempre mais me convenço que o caminho certo, para analisar o papado, consiste em prestar atenção à religião do povo. A palavra ‘papa’ (pope) pertence ao grego popular do século III e é um termo derivado da palavra grega ‘pater’ (pai). Ela expressa o carinho que os cristãos tinham por determinados bispos ou sacerdotes. O termo penetrou no vocabulário cristão, tanto da igreja ortodoxa como da católica. No interior da Rússia, até hoje, o pastor da comunidade é chamado ‘pope’. A história conta que o primeiro bispo a ser chamado ‘papa’ foi Cipriano, bispo de Cartago entre 248 e 258 e que o termo ‘papa’ só apareceu tardiamente em Roma: o primeiro bispo daquela cidade a receber oficialmente esse nome (segundo a documentação disponível) foi João I, no século VI.
Não se tem dado, entre nós, a devida atenção à religião popular na construção do cristianismo. É um dado implícito a toda a história da igreja, mas que passa largamente despercebido e sem comentário. Isso provém, em parte, do fato de que, até pouco tempo atrás, a historiografia cristã estava principalmente baseada no estudo de fontes escritas. Ora, essas fontes praticamente nunca abordam a religião do povo. Isso, aliás, é regra geral: intelectuais não costumam mostrar interesse pelo que se passa no meio do povo comum e anônimo. A ‘plebe’ não retém a atenção de filósofos como Platão, Aristóteles, Cícero ou Sêneca, ou de intelectuais proeminentes como Galeno, Plotino ou Marco Aurélio. Nem mesmo autores cristãos como Justino, Ireneu, Tertuliano, Cipriano, Clemente de Alexandria ou Orígenes descrevem o que se passa entre cristãos comuns. Afinal eles também pertencem à elite letrada. Hoje existem ciências que nos revelam a vida vivida daqueles tempos, para além dos escritos, como a arqueologia e a iconografia, ou seja. o estudo da arte cristã.
O estudo da arte cristã no decorrer do século IV mostra que praticamente tudo que se conta sobre Pedro provém da religião popular. Na época da construção das primeiras basílicas cristãs (segunda parte do século IV), se convidaram artistas que trabalhavam com mosaicos para cobrir as paredes de cenas relativas aos evangelhos e á vida da igreja. Assim apareceram as mais variadas imagens de Pedro: crucificado de cabeça para baixo, com as chaves na mão, pescador, segurando na mão direita a maquete de alguma nova igreja, revestido de vestes sacerdotais romanas (alba, estola, manípulo), com a tiara persa ou a mitra mesopotâmica (da liturgia do deus Mitra) na cabeça, com seu barco (que nunca afunda), sua rede (que pesca homens), seu selo, sua cátedra (a santa sé). Mas a imagem que aparece com mais frequência é a do túmulo de Pedro, ao lado do túmulo de Paulo. Efetivamente, o papa é antes de tudo visto como o guardião dos túmulos de Pedro e Paulo. Uma tradição romana muito antiga reza que Pedro foi martirizado no monte Vaticano e Paulo ‘fora dos muros’. Desde cedo se registram ‘romarias’ aos túmulos dos apóstolos-mártires Pedro e Paulo[2]. Sem documentação que provasse a veracidade da presença de Pedro e Paulo em Roma, as histórias sobre ambos proliferam em Roma. Já no século II, ir a Roma significa visitar os túmulos sagrados, como comprovam os escritos de Justino e Inácio de Antioquia. O papa Pio XII ainda procurou reavivar a tradição dessas romarias por meio do ‘ano santo’ de 1950, que foi um sucesso e mais tarde, em 1956, ele mandou executar escavações num cemitério antigo descoberto em 1956 sob uma garagem em construção no Vaticano. Nesse cemitério eram enterradas pessoas pobres, escravos e libertos até nos séculos IV e V. O papa esperou encontrar aí sinais do túmulo de Pedro, mas as obras foram suspensas por falta de evidências[3]. Tudo isso indica que a instituição cristã, da maneira como funciona concretamente, pode ser considerada uma criação da religião popular. Para os bispos, não é tão fácil aceitar isso, mas não há como fugir da evidência. Todos sabemos que o povo sustenta financeiramente a hierarquia (de uma ou outra forma) e que é ele que confere prestígio e honorabilidade a bispos e papas. Afinal, o que seria do papa se ninguém mais saísse de casa para ir vê-lo e aclamá-lo?
Interessante observar que os próprios papas têm sua ‘religiosidade’. Até agora, nenhum papa se atreveu a adotar o nome Pedro. Só tardiamente, no século VI, um papa adotou o nome João e só no século VIII veio o primeiro Paulo. Há muitos detalhes interessantes nesse sentido, que não menciono aqui por falta de espaço, mas que você pode pesquisar na google.

4. A luta pela hegemonia.

A partir do século III desencadeia-se, entre os bispos das quatro principais metrópoles do império romano (Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Roma), uma prolongada luta pelo poder. Essa luta é particularmente dramática na parte oriental do império, onde se fala a língua grega. Os bispos em litígio passam a ser chamados ‘patriarcas’. Esse termo acopla o ‘pater’ grego com o poder político (‘archè’, em grego, significa ‘poder’), o que significa que o patriarca é ao mesmo tempo pai e líder político. Nos inícios, Roma participa pouco dessa disputa, por ficar longe dos grandes centros do poder da época e usar uma língua menos universal (apenas usada na administração e no exército do sistema imperial romano), o latim. Por sua vez, Jerusalém, cidade ‘matriz’ do movimento cristão, fica fora do páreo por ser uma cidade de pouca importância política.
Constantinopla se autoproclama, em 330, a ‘segunda Roma’, um título aceito pelos bispos em 381, por ocasião do concílio de Constantinopla. Doravante, o poder divino (exercido por Pedro) atua na ‘nova Roma’, ou seja, em Constantinopla. Fortalecidos por esse consenso, os patriarcas de Constantinopla se metem sempre mais em assuntos internos das demais igrejas, um processo que culmina em Calcedônia (451), quando Constantinopla nomeia bispos para Antioquia e Alexandria. A ideia da transferência do ‘poder de Pedro’ ainda faz sucesso no século XVI, quando o patriarca Jeremias II Tranos, de Constantinopla, viaja à Rússia (1589), impressionado pelo vigor do cristianismo naquele país, faz de Moscou uma ‘terceira Roma’. Prontamente, a cidade se torna centro de peregrinação. Assim como os francos e germânicos peregrinam para Roma, os eslavos e russos peregrinam para Moscou. A identificação entre o império romano, sua memória, seus símbolos, seus ritos, suas vestes e cerimônias e os impérios bizantino, carolíngio, russo e católico é algo que salta à vista do historiador. Efetivamente, ‘o mundo gira, mas a cruz fica’[4].

5. Durante séculos, Roma busca o poder.

O patriarca de Roma, que no início não ocupa um papel de destaque na luta pela hegemonia sobre a cristandade toda, não deixa, desde cedo, de fazer valer seu poder na parte ocidental do império. Já no século III, o já citado bispo Cipriano, de Cartago, reage com energia diante das pretensões hegemônicas do bispo de Roma e repete que entre os bispos há de reinar uma ‘completa igualdade de funções e poder’. Mas a história progride inexoravelmente. Com tenacidade, os sucessivos patriarcas de Roma conseguem ampliar sua ascendência sobre as demais igrejas do ocidente. É uma longa história da qual aponto aqui apenas alguns momentos marcantes[5]. Penso que é importante percorrer as sucessivas etapas, pois desse modo fica mais fácil compreender que o papado é uma construção histórica condicionada pelo tempo e pelo espaço, como tudo que o homem faz. Tudo que o homem constroi pode ser desconstruído, remodelado ou substituído por algo mais condizente com as exigências do momento.
- Até o final do século III, o papado não se mete nas decisões feitas pelas reuniões de bispos. Eles são livres e soberanos. Mas já se anunciam problemas no horizonte.
- A mesma atitude perdura na primeira parte do século IV.Os bispos locais mantêm sua independência diante de Roma, embora sempre manifestem respeito para com o patriarca de Roma. Assim nas reuniões episcopais de Arles (314), Nicéia (325) e Sárdico (342). Quando há um caso, o bispo de Roma é notificado, nada mais. Os patriarcas Silvestre e Libério não interferem em decisões tomadas nas reuniões de bispos (concílios).
- As coisas começam a mudar na segunda parte do século IV. Os patriarcas romanos Damásio (366-384) e Sirico (384-399) se mostram destemidos e atribuem a Pedro (e seus sucessores) títulos da nomenclatura religiosa romana, como ‘sumo pontífice’, ‘príncipe (dos apóstolos)’, ‘vigário (de Cristo)’. Bispos como Basílio e Ambrósio não aprovam as manobras romanas, mas mesmo assim os patriarcas romanos avançam em busca de controle sobre os bispos.
- Sob Inocêncio I, no início do século V, o processo da romanização da igreja cristã no Ocidente avança. Inocêncio intervém sistematicamente nos assuntos de igrejas locais na Gália, Espanha e Ilíria, ele exige relatórios se reserva a última decisão. Às reuniões episcopais de Cartago e Mileve (acerca do pelagianismo), ele manda dizer que um caso só se resolve após passar por Roma. Celestino I segue o mesmo caminho e resolve soberanamente o caso de Nestório (de Alexandria), e delega Cirilo de Alexandria ao concílio de Éfeso (431). Mais uma vez, bispos e teólogos reagem. Mesmo Agostinho não concorda, embora se diga que ele seja autor da frase ‘Roma falou, a discussão terminou’[6]. Ele mantém a ideia tradicional: a autoridade romana tem de respeitar a soberania dos concílios episcopais. O primado do bispo de Roma é apenas honorário.
- Mas o processo da centralização romana continua. Leão I intensifica a mística petrina e principalmente a mitologia em torno da imagem de Pedro. Ele tem a ousadia de afirmar que sua autoridade (a ‘plenitude do poder’[7]), provém diretamente de Cristo. O ‘vigário de Cristo’ é o ‘príncipe dos apóstolos’, não é o ‘primeiro entre pares[8]’ (como dizia Eusébio), nem uma autoridade ‘honorária’ (como dizia Agostinho). Nos concílios realizados da Espanha, da Itália do Norte e da África do Norte, Leão age em chefe absoluto e intervém em mínimos detalhes. Mesmo no oriente ele se atreve a interferir. Na controvérsia monofisita, ele despreza a intervenção do patriarca de Alexandria e manda seus próprios legados, transmite ordens aos padres reunidos em Calcedônia e declara nulas as decisões que não lhe agradam. Essa postura mandante impressiona muito os contemporâneos, que conservam cuidadosamente sua correspondência, que passa a constituir a base da teoria papal vigente até nossos dias.
- A vitória definitiva do papado vem com Gregório Magno, que cria em Lérins, na atual França, uma escola de ‘aristocratas episcopais’ a estabelecer a organização eclesiástica no sul da Gália. Intelectual de renome, Gregório inicia os tempos da glória romana. Sua figura pode ser arrolada ao lado de outros expoentes da ‘aristocracia episcopal’, como Ambrósio, protagonista da supremacia da igreja sobre o estado; Agostinho, ao mesmo tempo ‘pai da inquisição’ e genial teólogo; João Crisóstomo, orador de renome e Cirilo de Alexandria, fundador da tradição teológica grega.
- O caminho está pavimentado. Após a bem sucedida aliança com o emergente poder germânico no ocidente (Carlos Magno, 800), os papas romanos sempre mais elevam o tom da voz e, por conseguinte, as relações com os patriarcas orientais (principalmente com o patriarca de Constantinopla) se tornam sempre mais tensas. O cisma de 1054 vem concluir uma evolução de séculos. Rompe-se a unidade do corpo cristão e dois caminhos se abrem: o ortodoxo e o católico.

6. Roma no auge do poder.

Aí começa a história da igreja católica apostólica romana propriamente dita. É uma história de sucesso, durante séculos. Esse sucesso provém principalmente da diplomacia, ou seja, da ‘arte da corte’ que Roma aprendera com Constantinopla. Ao longo dos séculos, praticamente todos os governos da Europa ocidental aprendem em Roma ou por Roma essa arte. Pois a diplomacia é uma arte nada edificante mas muito eficiente. Ela inclui hipocrisia, aparência, habilidade em lidar com o povo, impunidade, sigilo, linguagem codificada (inacessível aos fiéis), palavras piedosas (e enganosas), crueldade encoberta de caridade, acumulação financeira (indulgências, ameaça do inferno, do medo etc.). A imponente ‘História criminal do cristianismo’, em 10 volumes, que o historiador K. Deschner acaba de concluir, descreve essa arte eminentemente papal em detalhes.
É principalmente por meio da arte diplomática que, ao longo da idade média, o papado tem sucessos fenomenais. Sem armas, Roma enfrenta os maiores poderes do ocidente e sai vitoriosa (Canossa 1077). Como resultado, a igreja é afetada, no dizer do historiador Toynbee, pela ‘embriaguez da vitória’. O papa perde contato com a realidade do mundo e passa a viver num universo irreal, repleto de palavras sobrenaturais (que ninguém entende).

7. Roma ao lado dos mais fortes

Com o advento da modernidade, o papado perde paulatinamente espaço público. No século XIX, principalmente durante o longo pontificado de Pio IX, a antiga estratégia de se opor aos ‘poderes deste mundo’ não funciona mais. Não traz mais vitórias, registra apenas derrotas. Então, o papa Leão XIII resolve mudar a estratégia e inicia uma política de apoio aos mais fortes, uma estratégia que funciona durante todo o século XX. Bento XV sai da primeira guerra mundial ao lado dos vitoriosos; Pio XI apoia Mussolini, Hitler e Franco, enquanto Pio XII pratica a política do silêncio diante dos crimes contra a humanidade perpetrados durante a segunda guerra mundial, à custa de incontáveis vidas humanas. Após uma breve interrupção com João XXIII, a política de apoio silencioso aos ganhadores (e de palavras genéricas de consolo aos perdedores) prossegue até os nossos dias.

8. O papado, um problema.

Por tudo isso, pode-se dizer hoje que o papado não é uma solução, é um problema. Pois o papa não é só um líder religioso, mas também um chefe de estado. Cada vez mais se percebe como o papado é um desvio do episcopado. Esse episcopado registra, ao longo dos séculos, páginas luminosas. Aqui na aqui na América Latina tivemos, nos últimos tempos, além de bispos mártires como Romero e Angelelli, uma geração de bispos excepcionais entre os anos 1960 e os anos 1990. É verdade que o concílio Vaticano II avançou a ideia da colegialidade episcopal, no intuito de fortalecer o poder dos bispos e limitar o poder do papa, mas sem avanços consideráveis, pelo menos até hoje. Mesmo assim, vale lembrar que o catolicismo é maior que o papa e que a importância dos valores veiculados pelo catolicismo é maior que o atual sistema de seu governo.
Tudo se resume na seguinte pergunta: ‘pode a igreja católica subsistir sem papa?’ É como se perguntar ‘ pode a França subsistir sem rei, a Inglaterra sem rainha, a Rússia sem czar, o Irã sem aiatolá?’. A própria história dá resposta. A França não se acabou com a destituição do rei Luis XVI e o Irã certamente não se acabará com o fim do reino dos aiatolás. O surgimento do protestantismo no século XVI comprovou que o cristianismo pode subsistir sem papa. Haverá certamente resiliências e saudosismos, tentativas de volta ao passado, mas instituições não costumam desaparecer com mudanças de governo. Em geral, o movimento da história em direção a uma maior participação popular é irreversível (ao que parece). Cedo ou tarde, a igreja católica terá de enfrentar a questão da superação do papado por um sistema de governo central mais condizente com os tempos que vivemos.


Notas:
[1] Meyendorff, The Primacy of Peter. Essays on Ecclesiology and the Early Church, Crestwood (NY), St. Vladimir‘s Seminary Press, 1992.
[2] As romarias ‘ad limina apostolorum’.
[3] Veja Revue d’ Histoire Écclésiastique, Louvain, 1976, 109-111, com comentário do livro de Väänänen sobre o assunto.
[4]
 Stat crux dum volvitur mundus.
[5] Veja Wojtowytsch, M., Papsstum und Konzile von den Anfängen bis zu Leo I (440-461). Studien zur Enstehung der Überordnung des Papstes über Konzile, Stuttgart, A Hiersemann Verlag, 1981.
[6] Roma locuta, causa finita
[7] Plenitudo potestatis.
[8] Primus inter pares. Essa é a tese clássica de Cipriano.
[Fonte: Servicios Koinonía].

Pastoral da Saúde realiza missa de protesto em frente ao Hospital Roberto Santos



Impedidos visitar pacientes do Hospital Roberto Santos, membros da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Salvador realizam na tarde desta quarta-feira (6) uma missa na frente da instituição em comemoração ao aniversário de 34 anos da unidade de saúde. “Nem a missa natalina nós tivemos autorização para celebrar, como era de costume. Vamos aos hospitais a pedido do próprio Cristo para acompanhar e ajudar os doentes, e agora estamos proibidos de entrar no Roberto Santos”, afirma o coordenador da Pastoral da Saúde, padre Jorge Brito. Segundo informações do hospital, grupos religiosos deixaram de ter acesso aos doentes após reclamações de pacientes e familiares de que estariam fazendo pregações sem questionar se os enfermos tinham interesse em ouvir. Por meio da assessoria de comunicação, o Roberto Santos informou que está aberto ao diálogo para encontrar uma forma de dar acesso aos grupos. Informações do Correio.

Fonte: http://www.bahianoticias.com.br

terça-feira, 5 de março de 2013

Menina é expulsa de igreja após discordar do padre em reunião

Paróquia São José das Palmeiras
Uma menina de 11 anos de idade, que fazia parte de um grupo de coroinhas da única igreja católica de São José das Palmeiras, no oeste do Parará, foi expulsa da igreja pelo padre por fazer questionamentos sobre a presença nos encontros.
A mãe da adolescente, Rosane Bruno, disse que a filha participa dos movimentos desde os quatro anos. Para ela, o padre exagerou e vai responder na Justiça pela decisão. “Eu quero justiça para ela, porque, agora, ela está impedida de ir á igreja, coisa que ela gosta, ela está impedida de frequentar a catequese e o que vai ser dela. E se ele fizer isso com outras crianças”, questionou a mãe.
De acordo com a coordenadora dos coroinhas Sandra Menon, a discussão começou após a menina não concordar com as responsabilidades que o grupo deveria ter com relação aos movimentos e às cerimônias. “Ela questionou o padre. Por que tanto ir na igreja. Por que tem que ir tanto na igreja? (...)E ela ainda dialogou: Padre, mas assim a gente não vai sair da igreja. Daí começou. Ela começou a alterar a voz, o padre começou a alterar a voz com ela. E nesse altera voz, ele [padre] falou que não aceitaria ela mais como coroinha na igreja. [O padre falou] Você não precisa vir mais nem na catequese nem participar de movimento nenhum e nem na igreja porque nem Deus te quer assim. Pode ir para uma igreja evangélica", contou.
A mãe da menina também afirmou que a filha chegou a casa chorando e muito “desesperada”. “Ela só falava que Deus não queria ela mais na igreja”, completou.
O padre da casa paroquial de São José das Palmeiras não foi encontrado para falar da situação. Por meio de assessoria, o Bispo de Foz do Iguaçu, também no oeste, responsável pela igreja, Dom Dirceu Vegine, disse que vai falar com a família e só depois irá se manifestar.

Fonte: http://g1.globo.com