Inaldo da Paixão Santos Araújo, Vice- Presidente do TCE durante a celebração da cerimônia inter-religiosa |
"A verdade prova que o tempo
é o senhor/ Dos dois destinos, dos dois destinos/ Já que pra ser homem tem que
ter/ A grandeza de um menino, de um menino/ No coração de quem faz a guerra/
Nascerá uma flor amarela/ Como um girassol/ Como um girassol/ Como um girassol
amarelo, amarelo." (Cidade Negra)
"Qual o porquê dessa
mudança?" Foi com esse indagar e com uma certa indignação, confesso, que
reagi quando fui comunicado sobre a proposta – hoje concretizada – de se
substituir a tradicional Missa de Natal da Corte de Contas baiana por um Culto
Ecumênico.
Se, na mística Bahia, qualquer
segunda ´lavagem de beco´ já é considerada tradição, o que não dizer de um
celebrar com que, dos vinte e cinco anos que tenho de Casa, pude conviver 24
vezes?
Para mim, na condição de
ex-acólito, o dia da Missa, principalmente as últimas, sabiamente celebradas
pelo nosso Frei Paulo, era a data mais importante do Tribunal, pois era nesse
momento que mais fazíamos o que deveria ser feito todos os dias: crer sempre em
um tempo novo de paz e abraçarmo-nos como irmãos, não de sangue, mas de fé.
Assim, como qualquer ser humano,
de pronto, questionei: para que mudar?
Sei, todavia, que o Estado é
laico, embora nossa Carta Maior tenha sido promulgada sob a proteção de Deus.
Sei que há ação na justiça para
se retirar os simbolismos dos órgãos públicos; para se retirar a expressão "Deus
seja louvado" da nossa combalida moeda. Interpelo-me: se o Real já é o que
é com a louvação ao Senhor, imagina como ficaríamos sem a proteção divina?
Certos estão os americanos, quando afirmam: In God we trust.
Sei, por fim, que é natural, para
a raça humana, reagir a mudanças, principalmente quando já se está em uma
situação cômoda e não há relativa compreensão do que poderá ocorrer com o novo.
Tolice! Inevitavelmente,
como na canção, o "novo sempre vem". E, queiramos ou não, é sempre
"vida que segue".
Todavia, quando vi o chamamento
para participar da "Celebração Ecumênica de Confraternização de Final de
Ano", materializado em um belo cartaz em formato de girassol, com as
imagens dos representantes de seis segmentos religiosos – Sra. Ana Veloso
(Umbanda), Pr. Djalma Torres (Igreja Batista), Pe. José Carlos Silva (Igreja
Católica), Sr. José Medrado (Espiritismo), Sr. Luciano Ariel Gomes
(Representante da Sociedade Israelita da Bahia), e Makota Valdina Pinto
(Candomblé), e com o anúncio da participação de músicos da Orquestra Neojibá,
encantei-me.
Não fiquei na contramão. Parei
para refletir e participar. De fato, por que ser singular, quando podemos ser
mais do que plural? Por que ouvir, apenas, a opinião de um, quando, sabido é
que uma decisão colegiada é muito mais convincente? Por que não acreditar no
amor entre os homens, sem importar a crença? Enfim, se apenas desejarmos o bem,
seremos diferentes, sem deixarmos, nunca, de ser iguais, não é mesmo?
Razão assiste, portanto, à Mãe
Stella, quando em seu artigo no A Tarde, de hoje (19/12/2012), relembra
passagem bíblica: "há muitas moradas na casa de meu Pai" e que somos
"diferentemente iguais".
Espero, assim, que essa confraternização
seja marco de um verdadeiro redesenho de nossas práticas e de nossas vidas,
porque não mudaremos o Tribunal se não repensarmos e transformarmos
individualmente nossas ações.
Espero, como bem lembrou o médium
José Medrado, também no mesmo jornal de folhas, que não nos esqueçamos,
independentemente de egos, de que "o universo, lá fora, avança".
Espero que esse momento marque,
de fato, o prenúncio de um novo ano de uma Nova Era.
Espero, também, que esse dia seja
o verdadeiro advento de que a essência de todos os "ismos" é o amor,
no seu sentido mais puro, que é o caritas.
Afinal, está escrito na
primeira carta de São João que "Deus é amor, e quem permanece no amor,
permanece em Deus e Deus nele" (1 Jo 4, 16).
Espero, por fim, que essa
confraternização simbolize tempos de união, de compromisso, de amadurecimento,
de responsabilidades, de perdão e de paz, pois tudo passa e a verdade sempre
brota como um girassol amarelo.
Inaldo da Paixão Santos Araújo,
mestre em Contabilidade, conselheiro vice-presidente do Tribunal de Contas do
Estado, professor e escritor.