Sobre o CEPESC

Salvador, Bahia, Brazil
CEPESC - Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. Nasceu do sonho, da utopia e da luta pela criação de um entidade que refletisse, a partir da perspectiva cristã e no contexto da diversidade cultural, social e religiosa brasileira e da Bahia, o mundo dos nossos dias de um modo abrangente e total, ou seja, nas suas dimensões social, econômica, política, educacional e religiosa. Por isso, adotou o lema Dignidade e plenitude da vida e da criação. Organizada em 23 de novembro de 1996, é uma entidade de caráter cultural, educacional, social e religioso. Tem como objetivos estimular, fazer e divulgar pesquisas no campo político, econômico, social, cultural e religioso e realizar trabalhos de educação, sociais, culturais e religiosos. Contato: 3266-5526

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O CEPESC realiza o "Café Conhecimento", com objetivo de de debater temas contemporâneos da sociedade

Uma comunidade alternativa - Rua Capelinha do Tororó, n°1, 1º andar, Tororó. Centro
                                          
                                              C O N V I T E 


O CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão, sente-se honrado em promover o programa denominado "Café Conhecimento", com o objetivo de apresentar, debater e esclarecer, a partir de eventos, temas contemporâneos da nossa sociedade, a serem expostos nas mais diversas modalidades de conhecimento (popular, filosófico, religioso, científico, etc.)
O primeiro evento será realizado na modalidade de uma mesa-redonda no próximo Domingo, dia 30 de Agosto de 2015, ás 9h da manhã, no CEPESC.  "Conhecimento: fundamentos e experiências práticas" será o tema do evento, abordado pelos seguintes expositores:

Eliab Barbosa Gomes, Pastor, Sociólogo e Professor da UEFS
Daniel da Fonseca Lins Jr., Filósofo e Professor da UniJorge
Dalva de Andrade Monteiro, Médica, Psicanalista e Professora da UEFS
Washington Luis Conrado dos Santos, Médico, Professor da UFBA e Pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz...

Expedito Carlos Lopes
Coordenador do Programa


Pastores segundo o Coração de Deus...

Uma das figuras que caíram em descrédito nos últimos tempos é a do Pastor. Outrora visto como Líder de um grupo religioso cristão, pessoa que, se não era necessariamente bem quista em todas as sociedades, contudo era, ao menos, respeitada. Por ofício, o Pastor de uma Igreja era dedicado ao seu rebanho e à comunidade em geral. Em cidades pequenas, durante muito tempo, chegou a ser a figura intelectual mais expoente, principalmente se fosse Batista, Presbiteriano, Metodista, dentre outras denominações evangélicas que exigiam formação acadêmica de seus obreiros.
Este cenário começa a mudar, no Brasil, a partir do começo da década de 1970, e essa mudança causou grande impacto, não apenas no Cristianismo Evangélico, como também na forma como as pessoas fora do contexto evangélico passaram a enxergar a figura do Pastor. As igrejas, que eram lugares de reuniões religiosas e comunitárias, foram transformadas em lugares onde as pessoas seriam exploradas financeiramente, oprimidas espiritualmente e lesadas psicologicamente. A descoberta de que, através de um grande número de seguidores, era possível tornar-se rico, poderoso e famoso, fez com que muitos líderes abandonassem seus compromissos sacerdotais, para lançarem-se na desenfreada corrida por Dinheiro, Fama e Poder.
Desde então esse filão tem crescido assustadoramente. Um grande número das novas gerações de “pastores”, na verdade, são Executivos da Fé, treinados em liderança de multidões, eloquência, e capacitados para fazer rebanhos inteiros obedecerem cegamente, em prol de megaprojetos para controle de veículos de comunicação, economia, e política. Se o perfil do Pastor mudou, o mesmo aconteceu com as Igrejas. A Administração Eclesiástica, outrora voltada para a edificação e manutenção da comunidade, deu lugar a um modelo de Gestão Empresarial, onde o objetivo é o crescimento econômico, e isto passa, obrigatoriamente, pelo aumento dos frequentadores dispostos a contribuir financeiramente, muitas vezes de forma sacrificial, atraídos pela promessa de prosperidade. Para alcançar este objetivo, os rebanhos são “discipulados” para obedecer inquestionavelmente esses líderes, sob pena de entrarem em “maldição”.
Na década de 1980 um pequeno livro fez enorme sucesso nos seminários Batistas do Brasil. Intitulada “O Ministro Evangélico – Sua Identidade e Integridade”, a obra tornou-se um clássico da literatura acadêmica cristã, pois abordava as características que o Obreiro (e aqui temos que tratar no masculino mesmo, pois à época, mulheres não exerciam o pastorado) deveria ter no exercício do Ministério. O autor, Merval Rosa, Doutor em Psicologia e Pastor Batista, recentemente falecido em Recife, alertava para o Compromisso que o Pastor deveria ter com o Rebanho, e a importância de sua conduta exemplar perante a Sociedade, demonstrada através do cuidado com as pessoas, comportamento ético, e equilíbrio nos posicionamentos.
Analisando a conduta pós-moderna de parte das lideranças evangélicas brasileiras, à luz das Escrituras, mais precisamente de Jeremias 3:15, encontramos um desafio de, inicialmente, aprofundar o entendimento sobre o que realmente é ser um Pastor, e também nos deparamos com a Divergência entre o que o Texto propõe, e a conduta de tais “ministros”.
Antes de mais nada o Pastor é uma pessoa que sente-se Vocacionada (ou chamada por Deus, como tradicionalmente se diz). Essa vocação não é uma chancela para manipular o rebanho, mas, antes, o Chamado a Servir à Comunidade, e este Serviço (segundo propõe o Texto Sagrado) não é algo meramente filantrópico. O exercício pastoral é caracterizado por Ciência – no sentido de Conhecimento, busca pelo saber; e Inteligência – no sentido de que suas ações sejam efetivas, práticas e edificantes para a comunidade. Dois aspectos que convergem claramente com as características descritas por Merval Rosa em seu livro.
O texto bíblico sugere que o Pastor seja alguém que tenha Sensibilidade, não apenas espiritual, como também humana, de modo a exercer a Empatia diante do Rebanho, e, com isto, ser um Facilitador da espiritualidade das pessoas, indo com elas os passos necessários, não para torna-las eternas dependentes, mas ensinando-as a caminhar firmemente com os próprios pés; abri-lhes os olhos para a incessante busca por conhecer as verdades que se desafiam diante de uma vida de incertezas.
Por outro lado, tamanha dedicação aos fiéis que frequentam a igreja, não deve pressupor que esse líder seja alguém alijado “do mundo”, mas, antes, alguém antenado com o que acontece ao redor, agindo e incentivado ações que promovam Valores que visem, sobretudo o Bem Estar de todos/as, e isto passa por uma vida de Serviço ao próximo, ao invés de um viver que se sirva do próximo. Desta forma, entende-se que Servir é outra importante característica do Obreiro.
O melhor Exemplo de Pastor que podemos ter é o de Jesus Cristo. Como Deus, Ele tomou a forma humana, e, em Sua Caminhada, esteve ao lado das pessoas, principalmente aquelas que estavam alijadas do convívio social, por questões diversas, como raça, cor, sexo, gênero, econômica, etc. Este foi, não somente um gesto de Humildade, como também de Disposição em Servir. Aliás, o próprio Cristo afirma “Eu não vim para ser servido, mas para servir”. Aqueles/as que o procuravam, sempre traziam suas agruras, e n’Ele encontravam conforto e disposição para continuar a vida a partir de uma Nova Perspectiva.
Ainda de olho em Jeremias 3:15, vemos que Ciência e Sabedoria estão atrelados ao Caráter do Pastor segundo o Coração de Deus. Como vimos anteriormente, o Pastor não é apenas o líder de uma congregação; ele é um Formador de Opinião na Sociedade, que, de maneira geral, sempre espera/ouve o posicionamento/ações desse Obreiro sobre temas e acontecimentos que afetam a cidade, o estado, o país, e até o mundo. Disso decorre sua enorme responsabilidade, pois, a posição que ele toma afeta um público bem maior do que os membros de sua igreja.
Ora, levaríamos um tempo muito maior do que o que dispomos no momento explorando as dimensões de Ciência e Sabedoria, mas, podemos refletir sobre o tom Conciliador, Acolhedor, Pacificador, Fraterno, Libertador que vemos não apenas na fala, como também nas ações de Jesus Cristo, nosso exemplo de Pastor. Em sendo Ele o Modelo, torna-se mais fácil entender o significado de “vos darei Pastores segundo Meu Coração, que vos apascente com Ciência e Sabedoria”.
Assim, também, temos um pouco mais de luz na análise do perfil pastoral segundo o Coração de Deus, e, da mesma forma, conseguimos entender o que está por trás de muitos ditos “pastores” que agem nessa pós-modernidade, em nome de Deus, manipulando rebanhos, mas sem espírito de Servir, mas, servindo-se da obediência cega e irrestrita dos fiéis. Conseguimos, ainda, compreender a distância ética e moral entre os tais “pastores”, cuja
influência na Sociedade tem sido de um aproveitador da fé alheia em benefício próprio, daquele modelo que vemos no exemplo de Jesus Cristo. Por fim, à luz do que se pode entender do texto sagrado, vemos absoluta falta de Conhecimento e Sabedoria nas ações de grande parcela de líderes religiosos com títulos de “pastores”, cujos posicionamentos e/ou envolvimentos de alcance social, promovem distanciamento entre as pessoas, alimentam o ódio, preconceito, desrespeito.
Pastores? Temos milhares. Faltam-nos os que sejam segundo o Coração de Deus, e que nos apascente com Ciência e Sabedoria...




Cláudio Roberto Sena
Teólogo

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Pastor Djalma Torres participa de campanha contra a intolerância religiosa

Quem anda pelas ruas de salvador já deve ter visto um out door, com líderes de diversos segmentos religiosos, veiculado deste 20 de novembro em várias partes da cidade. A campanha alerta  para o crime de intolerância religiosa.  O Pastor Djalma Torres  foi escolhido pela sua história de combate a intolerância religiosa há mais de trinta anos. Também fazem parte o Espírita José Medrado, do Centro Cidade da Luz; a Ialorixá Jaciara Santos, do terreiro Axé Abassa de Ogum; o Padre Lázaro, da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos; a Makota Valdina Pinto.

A iniciativa  é da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial - Sepromi em comemoração ao Novembro Negro. A campanha veiculada também em rádio e TV alerta  para o crime de intolerância religiosa. 

Para conferir a mensagem clique na foto abaixo.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

CANUDOS, 120 ANOS DE LUTA E HISTÓRIA



Há cerca de 120 anos, às margens do Rio Vaza Barris, numa fazenda abandonada, em plena caatinga do sertão nordestino, nasceu um povoado chamado Belo Monte. Em pouco tempo cresceu até chegar a mais de 20 mil pessoas, entre crianças, jovens, mulheres e homens ativos e idosos que ainda trabalhavam. Eram brancos, mulatos e negros, trabalhadores do campo e pequenos proprietários de terra sem condições de sobrevivência; eram homens solteiros e famílias desamparadas.
Hoje, 120 anos depois, não existe mais o povoado. As águas do Açude do Cocorobó ocupam a área do antigo povoado. No final da semana passada, mais uma vez, nós falamos, rezamos, cantamos e choramos por Belo Monte. Isso aconteceu com a 26ª, Romaria de Canudos, realizada nos dias 18 à 20 de outubro de 2013, organizada pelo Instituto Popular Memorial de Canudos – IPMC, pela Paróquia de Santo Antônio de Canudos, pela Comissão da Romaria e com o apoio da Prefeitura Municipal de Canudos e da UNEB.

O tema deste ano foi “Os Jovens e o Meio Ambiente na História Viva de Canudos”, com o lema “Jovem! Levanta-te, Anda e Transforma o Sertão”, baseado em Lucas 7:14. A programação foi antecedida por uma tribuna na Capela do IPMC, nas noites de 15, 16 e 17 de outubro. No dia 18, 6ª feira, houve atividades do Fórum de Desenvolvimento Local Sustentável de Canudos. No dia seguinte, 19, sábado, foram realizadas uma oficina no Memorial da UNEB, visitas ao Parque Estadual de Canudos e à noite, com a celebração ecumênica, a romaria efetivamente teve início. Seguiu-se uma Mesa Redonda sobre a juventude e o meio ambiente e o sábado chegou ao fim com uma já tradicional Noite Cultural, com artistas da região. No domingo, 20, a romaria propriamente dita teve início com uma alvorada, às 5h00 da madrugada; depois da celebração da missa, às 6h00, a caminhada foi iniciada, seguindo pelas ruas da cidade em direção ao açude, com paradas para pronunciamentos sobre o semiárido, a seca, o descaso político com a região e orações com pedido de chuva. O encerramento foi feito com os agradecimentos e o rito de envio aos romeiros e a todos os participantes. 

Um momento emocionante foi o desfile das escolas municipais que evocaram a história de Canudos, apresentando grupos de canudenses, do exército, de mulheres, de crianças, dos pescadores, dos produtos agrícolas dos sítios e da figura exponencial do Conselheiro.
Por tudo isso a romaria dos 120 anos da fundação de Canudos foi brilhante e as dezenas de visitantes do Nordeste, de outras regiões do País e de fora do Brasil ficaram entusiasmadas pelo que viram e ouviram. Merecem os aplausos de todos nós os organizadores da romaria.
Canudos está vivo!

Pr. Djalma Torres




Rua Capelinha do Tororó,1, 1º andar, Tororó – 40050-050, Salvador,Bahia

 Tel. 71 3266-5526   – blogdocepesc.blogspot.com.br – cepec.ba@gmail.com

A ATUALIDADE DA REFORMA

UMA RELEITURA PARA OS NOSSOS DIAS

Cerca de quinhentos anos já se passaram, desde o dia em que Lutero pregou as suas 95 teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, num gesto em que buscava o apoio do Papa à  sua luta para combater a herética e corrupta prática do tráfico de indulgências no seio da igreja, e que se transformou no evento simbólico do movimento que seria historicamente conhecido como a Reforma Protestante.
  
A ação de Lutero, somada à de outros luminares desse movimento, como por exemplo Zwinglio, Calvino e Melanchton teve, por certo, condicionamentos sociais, filosóficos, econômicos, políticos e tecnológicos diversos, mas o seu epicentro foi o espaço religioso de então, totalmente dominado pela Igreja Católica, com todo o seu poder econômico, político e espiritual, estribado no quase absoluto monopólio do conhecimento, especialmente do conhecimento religioso e teológico.
   
Esse monopólio institucional do conhecimento, sempre (ontem e hoje) nocivo e conducente ao autoritarismo, resultava em práticas   manipulatórias que se constituíam em graves agressões à  verdade evangélica, cuja natureza é libertadora e comprometida com a autonomia e a realização do ser humano.
   
Se a Reforma foi, no seu princípio, um libelo contra  uma igreja distante dos princípios evangélicos e  uma luta pela libertação do jugo e do  poder opressor de uma instituição dominada por um clero corrupto e autoritário, ela proclamou verdades que, pelo seu alcance, terão sempre uma grande força transformadora na vida das igrejas e das sociedades alcançadas por sua mensagem.
   
Hoje, ao analisar o mundo e o ambiente religioso, e constatar como estão nele  presentes o autoritarismo e as práticas de manipulação de pessoas, somos convencidos da atualidade da Reforma e da necessidade de a igreja resgatar suas idéias-eixo e comprometer-se em estar sempre se reformando.
   
Tal convicção é reforçada pela análise dos quatro anúncios sistêmicos destacados a seguir, cuja  influência cumulativamente transformadora e avivadora ainda hoje é muito ausente na prática das igrejas e no mundo em que vivemos. Nesse sentido, a Reforma é um movimento sempre futurista, uma utopia ainda não realizada e um desafio sempre presente.

1). O primeiro destaque: Os reformadores anunciaram a universalização da salvação ou, do ponto de vista institucional social e político, a democratização da salvação.

A redescoberta da verdade bíblica da justificação  pela fé e o anúncio desta verdade iam de encontro aos interesses e à pregação de uma igreja que se pretendia depositária da graça salvadora de Deus. Por isso, “sem a igreja e fora dela não havia possibilidade de salvação”. Só havia um caminho para alcançá-la: ser católico apostólico romano e estar sob o poder absoluto e absolutista da igreja, sem questionamentos ou desvios.
   
A mensagem da Reforma implicava no reconhecimento de que a salvação é pela graça (de Deus), através da fé (do homem), e que esta fé é dom de Deus e não obra humana, para que ninguém, diante da graça salvífica, se pense melhor que um outro ou superior a ele. A Reforma posicionava todas as pessoas em condições de igualdade diante da graça de Deus.
   
Assim, não há mais espaço para mediadores autoritários, mas para servidores dessa graça, comunicando-a aos homens como o serviço maior que lhes pode prestar.
   
Sob esta ótica, só há um absoluto, Deus, o Senhor  da graça, da fé, da salvação e da própria igreja. Esta, como meio de comunicação dessa graça, ela mesma somente será aprovada enquanto seja fiel ao seu Senhor e útil para a salvação e a realização dos homens, por sua palavra e por sua vida - porque a palavra falada precisa ser também a palavra vivida.
   
A graça de Deus alcança a todos, é universal; a salvação é para todos, sem acepção de pessoas, e é universal a sua oferta. O meio de resposta do homem, a fé, é acessível a todos e, assim, também universal. A resposta humana à graça de Deus, por sua vez, não depende da sujeição a um credo formal, a poderes e instituições históricas, mas deve ser pessoal, consciente e autônoma. O poder de decidir se a aceita ou não está no homem, em cada indivíduo – esse o aspecto universal e democrático da salvação.

2). O segundo destaque: Os reformadores anunciaram a universalização do conhecimento, a democratização do saber. Do saber religioso, primeiro; do conhecimento em geral, como consequência. Essa era a implicação direta da mensagem em que preconizavam o acesso direto de todos os crentes e de todos os homens à leitura da  Bíblia e à educação.

Se, diante dos postulados preconizados pela Reforma, nem mesmo as principais autoridades espirituais da Igreja teriam a prerrogativa de tirar do povo o direito de acesso ao conhecimento libertador das verdades cristãs exaradas na Bíblia, quem o teria e em que âmbito da vida?
   
Era o posicionamento, mais ou menos consciente dos reformadores, de que eles não haviam sido chamados para defender o Evangelho, mas para proclamá-lo em sua inteireza e em seu caráter libertados de todas as opressões, e para vivê-lo. De que a igreja, para tornar-se conscientemente fiel, precisa do conhecimento libertador das verdades evangélicas, de transparência em suas práticas e de uma vida íntegra com a qual testemunhe o poder da mensagem que proclama.
   
Agora, com as facilidades criadas pela invenção da imprensa, com o ambiente cultural propício gerado pelo Renascimento, e com o apoio de alguns soberanos que se desprendiam dos grilhões de uma religião autoritária e obscurantista, os reformadores e seus seguidores podiam fazer a Bíblia chegar ao povo e, com isso, tornar  universalmente acessível (consideradas as limitações da época) o conhecimento das suas verdades libertadoras.
   
Até então o conhecimento, como fonte de poder, em qualquer religião que se considere, fora sempre monopólio de uns poucos religiosos do alto escalão, todos eles sacerdotes e, por isso mesmo, comprometidos com o status-quo, com a tradição, com o passado.
   
3). O terceirondestaque: Urgia, pois, que outra verdade, sinérgica com essas duas já proclamadas, viesse juntar-se a elas para quebrar essa díade diabólica, de viés autoritário – o monopólio e a institucionalização da salvação, o monopólio e a institucionalização do conhecimento e do saber. E os reformadores anunciaram o sacerdócio universal dos crentes, cuja primeira implicação é a atomização e a democratização do poder na igreja.
   
Antes. o povo não existia como sujeito da sua salvação e da sua história, construída a partir da graça de Deus que lhe é estendida e da sua resposta consciente e autônoma a esta graça, pela fé. Agora, a realidade seria diferente.
   
A instituição eclesiástica que, como tal, só tem sentido para o seu existir se serva de Deus e dos homens, salvos ou não, é chamada a voltar ao seu verdadeiro lugar. O povo, e cada ser humano em particular, é colocado ante o desafio de assumir e realizar a sua autonomia, bem como de dar sentido à suaprópria vida. E, se por decisão pessoal e consciente, assumir a fé cristã, é chamado também a construir a caminhada da sua igreja, num tipo de relação diferente, segundo a qual, a partir de agora, o poder  não mais estará concentrado em uma pessoa ou na classe sacerdotal, mas atomizado, disperso, distribuído entre todos os cristãos, pois todos são igualmente sacerdotes.   
   
Era um golpe certeiro e mortal, se levado às últimas conseqüências, no autoritarismo, sempre diabólico, que encontra os campos mais férteis para prosperar nos espaços religiosos onde predominem o emocionalismo, o culto a personalidades, os mistérios e operações somente acessíveis a alguns privilegiados, bem como no meio das “seitas” científicas esquecidas da finitude e limitação humanas, e nos espaços políticos de viés messiânico, assistencialista, populista e demagógico.
   
O sacerdócio universal dos crentes era a verdade bíblica a ser necessariamente  realçada para que o  verdadeiro sentido da liderança cristã, que segundo os ensinos do Novo Testamento  se traduz em serviço para a salvação e para o crescimento e a realização do homem em Cristo,  pudesse ser resgatada, reaprendida e posta em prática pelos cristãos.
   
Como justificar, agora, a concentração do poder na classe sacerdotal, se todos são sacerdotes? Qual a justificativa para que o clero, não importando como sejam chamados os seus sacerdotes oficiais, sejam mais importantes e  mais poderosos que os não-clérigos, os demais cristãos chamados de leigos (por definição, os que não sabem) – um  horrível apelido arranjado para eles, com o intuito consciente ou não de confiná-los em seu próprio espaço, distante do espaço dos sacerdotes e  sujeitos ao seu poder usurpador?

Sinérgica e cumulativamente, a força transformadora da mensagem da Reforma, com todas as suas implicações para a igreja e para a sociedade, vai-se mostrando em sua plenitude:

A justificação é pela fé, e a salvação é para todos, é universal e democraticamente oferecida.

A Bíblia, o conhecimento e o saber são para todos, e essa fonte milenar de poder  (conhecimento, saber) deve ser acessível a todos, universal e democraticamente.

E se o sacerdócio também é universal, não há mais um lugar privilegiado para os que sabem e podem (o clero), em detrimento dos que não sabem e não podem (os leigos).
   
Mas como o poder não está apenas no cargo, na posição e no nome pomposo que o descreva, mas também em suas prerrogativas, em seus rituais, em seus procedimentos e nos conceitos verdadeiros ou equivocados que o sustentem, faltava algo a ser realçado para viabilizar mais um golpe fatal da Reforma no autoritarismo obscurantista da igreja medieval e, por implicação, em qualquer tipo de autoritarismo.
   
4). O quarto destaque: A última verdade que destaco está implícita nas três outras acima destacadas e delas se deriva, especialmente do sacerdócio universal dos crentes: os reformadores anunciaram, com isso, a universalização ou a democratização dos meios de produção do que-fazer religioso.
   
Se todos os crentes são sacerdotes, a não ser que a instituição religiosa faça alguns mais sacerdotes que outros, tiram-se da classe sacerdotal as prerrogativas de ser detentora do conhecimento dos mistérios da religião e de ser a única instância da igreja capaz (e autorizada para tanto) de celebrar e realizar com exclusividade certas práticas e cerimônias mais significativas.
   
Agora, à luz deste novo conceito do sacerdócio cristão, de modo algum é dada ao clero a exclusividade para operar “mistérios” a que os demais crentes não tenham acesso. Ainda mais, para para práticas sem qualquer respaldo bíblico, espetaculosas, fortemente impressionantes e mais facilmente utilizáveis com propósitos manipulatórios, de demarcação de espaços de poder e ligadas a ostensivos interesses econômicoa e financeiros que, agindo em conjunto, resultam no fortalecimento do autoritarismo de lideranças anacrônicas e distantes do verdadeiro espírito cristão, conforme explicitado nos ensinos de Jesus.
   
Em tese, o sacerdócio universal dos crentes implica em que, se até o anúncio e o conhecimento da graça salvadora de Deus, sua bênção maior e renascedora  dirigida a todos os homens, não é mediada por uma instituição ou por uma classe especial de crentes (o clero), mas tem como sacerdotes e mediadores todos os cristãos, o mesmo deve acontecer com as outras bênçãos e verdades que Deus tem para os homens em geral e para o seu povo.
   
É claro que isso não deve impedir decisões, práticas e programas inteligentes da igreja, conducentes à plena utilização dos dons com que o Espírito de Deus a provê, bem como à cabal realização dos ministérios nos quais os crentes, abençoados com esses dons, respondam à vontade de Deus e às necessidades dos seus irmãos de fé e dos homens em geral, e encontrem o espaço de serviço adequado à sua realização como novas criaturas, como renascidos em Cristo e como comunidade e fraternidade da fé.
   
Isso somente será possível se a igreja tiver todos os cuidados para não se trair em sua prática, caindo em armadilhas e desvios autoritários ou repetindo, com justificativas pretensamente baseadas nos ensinos de Cristo, os modelos de divisão do trabalho e de estruturas hierárquicas piramidais comuns às culturas e  modelos econômicos das sociedades onde estão radicadas, todos distantes dos paradigmas estabelecidos nos evangelhos.
   
Essa possibilidade somente encontrará caminho para tornar-se real se a igreja, o povo renascido de Deus, assumir radicalmente o seu compromisso com Cristo e seus ensinos, construindo a sua unidade na diversidade, pois diversos são os dons e os ministérios, e o contrário disso seria o monolitismo e a uniformidade sem vida e autoritária da Igreja medieval. Também, livrando-se da carga de institucionalismo que o tempo e a irreflexão lhe foram impondo e sendo presente na sociedade como verdadeiros sal da terra e luz do mundo.
   
Diante do que acima dissemos, a Reforma é e será sempre uma obra inacabada. Será sempre um desafio, em qualquer tempo e em todos os lugares, nunca  assumido por uma igreja sacerdotal, comprometida apenas com a tradição, com a letra fria, com estruturas, programas, métodos e processos marcados pelo autoritarismo, pelo corporativismo clerical e por privilégios, divisões e prerrogativas injustificáveis concedidas a alguns.
  
A Reforma, ontem ou hoje, é coisa para uma igreja profética, questionadora do "status-quo", inconformada com este mundo, comprometida com a utopia possível (se assim não fosse, Jesus não a teria proposto) do Reino de Deus – o espaço humano e, por isso mesmo, espiritual, intelectual, emocional, físico, volitivo, individual, comunitário e social em que o senhorio de Cristo se realiza. Uma igreja que entenda que todo o poder e toda a honra são de Cristo, o nosso Senhor, e que os crentes, todos os crentes, sem distinções quaisquer, são igualmente filhos e igualmente servos do Deus altíssimo, chamados por ele para servir aos homens, a todos os homens, segundo a santa, libertadora e divina vontade.
   
A Reforma Protestante, em seus postulados mais centrais e fundamentais, de modo afinado com  o conjunto dos ensinos neo-testamentários, é um libelo, um grito de indignação, um manifesto e um protesto sempre atuais contra todas as formas de autoritarismo e de degradação do ser humano.

É um compromisso radical com Cristo e com a liberdade de ser humano na dimensão da humanidade nele revelada. Um compromisso  com a liberdade de rebelar-se contra o mal e toda manipulação da verdade e do homem, quaisquer que sejam suas fontes, formas, estruturas e mediações. Um compromisso com a coragem de ser livre e de assumir a nossa autonomia, dimensão essencial do ser cristão.

 

Pr. J. C. Torres

 


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Universal derruba e tira Igreja Mundial da Band e do canal 21

A partir desta segunda-feira (21), a Igreja Mundial deixará de ser parceira e principal programa das madrugadas da Band e de 21 horas diárias do canal 21, que pertence ao grupo Band. Devido a atrasos no pagamento mensal pela cessão do canal (aluguel), a Band decidiu romper com a Mundial e fechar com a Universal de Edir Macedo.


Trata-se de uma das maiores derrotas sofridas pelo apóstolo Valdemiro Santiago, que deixou a Universal e fundou a Mundial. Ela já havia sofrido com a denúncia feita pelo jornalismo da Record (que pertence a Macedo), de que estaria usando dinheiro da igreja em benefício próprio, em reportagem exibida no "Domingo Espetacular". A reportagem causou abertura de investigações pelo Ministério Público e levou Santiago a vender algumas propriedades.

Nem Record, nem igreja, nem Band informam qual será a duração do novo contrato com a Universal, mas em UHF a programação evangélica deverá ocupar o mesmo tempo que hoje ocupa a Mundial: 21 horas por dia. Na Band, a Universal também ocupará parte das madrugadas.


Não há nenhuma legislação clara que proíba uma emissora de vender espaço para terceiros, embora uma lei "caduca" dos anos 60, que supostamente deveria regulamentar a TV aberta, proíba isso.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Pr. Djalma é homenageado durante Encontro de Batistas em Feira de Santana

Durante o  I Encontro de Formação da aliança de Batistas do Brasil, que ocorreu durante os dias 21 e 22 de setembro, em Feira de Santana  o Pastor Djalma Torres, convidado para o palestrar durante o encerramento, foi  homenageado em reconhecimento ao Prêmio Nacional de Direitos Humanos recebido em dezembro de 2012.
O encontro teve como tema: Política, sexualidade e teologia: a formação de uma nova juventude.
A discussão contou com a presença de sacerdotes e sacerdotisas de diferentes religiões.

Confira as fotos.