Confira a entrevista do Pastor Djalma
Torres ao programa Polêmica, da TV Olhos D'Água, da Universidade Estadual de
Feira de Santana. Torres falou sobre intolerância, preconceito
e se mostrou preocupado com o futuro dos debates e das conversas
inter-religiosas. Segundo o pastor, “Há muita coisa bonita no candomblé, assim
como há muita coisa bonita no espiritismo... O fato de eu ir a um Terreiro de
Candomblé, de ser amigo de uma Yalorixá ou de ser amigo de um líder espírita, não
diminui a minha fé. Eu agradeço muito a Deus o privilégio de viver esta experiência.”
Sobre o CEPESC
- Blog do Cepesc
- Salvador, Bahia, Brazil
- CEPESC - Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. Nasceu do sonho, da utopia e da luta pela criação de um entidade que refletisse, a partir da perspectiva cristã e no contexto da diversidade cultural, social e religiosa brasileira e da Bahia, o mundo dos nossos dias de um modo abrangente e total, ou seja, nas suas dimensões social, econômica, política, educacional e religiosa. Por isso, adotou o lema Dignidade e plenitude da vida e da criação. Organizada em 23 de novembro de 1996, é uma entidade de caráter cultural, educacional, social e religioso. Tem como objetivos estimular, fazer e divulgar pesquisas no campo político, econômico, social, cultural e religioso e realizar trabalhos de educação, sociais, culturais e religiosos. Contato: 3266-5526
quarta-feira, 27 de março de 2013
quarta-feira, 20 de março de 2013
Foto de Marco Feliciano no Instagram vira motivo de chacota nas redes sociais
Uma foto publicada no Instagram do pastor
e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos
da Câmara, virou motivo de chacota nas redes sociais nesta segunda-feira.
Datada de 23 semanas atrás, a imagem mostra o pastor provavelmente alisando os
cabelos. No título da imagem, a frase: “Momento descontração...Raridade!!!”,
seguida de mais de 650 comentários - até o início desta noite-, a maioria
zombando do parlamentar e chamando Feliciano de "bicha",
"diva", "bee" e "mona", entre outros. Conhecido
por declarações polêmicas sobre negros e homossexuais, o pastor responde a
processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por homofobia e estelionato.
Os comentários no Instagram satirizavam,
principalmente, o trato nas madeixas, molhadas. Dentre as frases dos
internautas, "Pronta pra bater cabelo na boate”, “tá linda bee” e “arrasou
na progressiva...vai pega (sic) os bofe (sic) tudo na balada”. A foto também é
uma das mais compartilhadas no Facebook.
Feliciano aparece em uma outra foto no Instagram,
com vários comentários que ironizam a sexualidade do pastor. Na imagem, o
parlamentar está sentado sobre uma poltrona vermelha, com um paletó da mesma
cor. “Que pintosa”, escreveu um usuário da rede. Um outro comentou:
"Poderosa, atrevida".
Marco Feliciano diz que direitos das mulheres atingem a família
Marco Feliciano |
RIO - As
críticas do atual presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM)
da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano (PSC-SP), avançam também em outra
direção: o direito das mulheres. Em entrevista para o livro "Religiões e
política; uma análise da atuação dos parlamentares evangélicos sobre direitos
das mulheres e LGBTs no Brasil", ao qual O GLOBO teve acesso, o deputado
critica as reivindicações do movimento feminista e afirma ser contra as suas
lutas porque elas podem conduzir a uma sociedade predominantemente homossexual.
"Quando
você estimula uma mulher a ter os mesmos direitos do homem, ela querendo
trabalhar, a sua parcela como mãe começa a ficar anulada, e, para que ela não seja
mãe, só há uma maneira que se conhece: ou ela não se casa, ou mantém um
casamento, um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo, e que vão gozar dos
prazeres de uma união e não vão ter filhos. Eu vejo de uma maneira sutil
atingir a família; quando você estimula as pessoas a liberarem os seus
instintos e conviverem com pessoas do mesmo sexo, você destrói a família,
cria-se uma sociedade onde só tem homossexuais, você vê que essa sociedade
tende a desaparecer porque ela não gera filhos", diz ele na página 155, em
declaração dada em junho de 2012.
Para o
pesquisador Paulo Victor Lopes Leite, do Instituto de Estudos da Religião
(Iser), um dos autores do estudo, a posição de Feliciano não é exceção: reflete
o pensamento majoritário defendido pelos integrantes da Frente Parlamentar
Evangélica.
- Constatamos
que os parlamentares evangélicos trabalham com a ideia de pânico moral, que se
manifesta sempre que qualquer atitude ou comportamento se mostra diferente do
conceito de família patriarcal, com pai, mãe e filhos. É a ideia de pânico
moral que faz com que rejeitem qualquer transformação natural da sociedade,
como o casamento igualitário e a necessidade de se discutir a legalização do
aborto - avalia.
As afirmações de
Feliciano causaram revolta nos movimentos feministas. Para Hildete Pereira de
Melo, professora da UFF e pesquisadora de relações de gênero e mercado de
trabalho, as convicções do parlamentar são atrasadas porque não acompanham as
necessidades da sociedade.
- Ele é misógino
e homofóbico. Desde a invenção da pílula anticoncepcional, os casais
heterossexuais podem manter vida sexual ativa sem que a gravidez ocorra.
Atribuir aos homossexuais a responsabilidade pela destruição da família é um
delírio. A destruição tem como culpado o homem, que sai de casa e abandona os
filhos quando o relacionamento termina. É preciso entender que os filhos são
responsabilidade do casal, e não apenas da mulher - critica.
segunda-feira, 18 de março de 2013
A entrevista de Boff sobre Bento XVI que a Folha engavetou
Leonardo Boff |
Teólogo
revela, na íntegra, respostas em que narra passagens centrais de sua
convivência com Papa — inclusive quando o teve como inquisidor. Jornal escondeu
texto precioso.
Por
Leonardo Boff, em seu blog
Dei
generosamente uma entrevista à Folha de São Paulo que quase não aproveitou nada
do que disse e escrevi. Então, publico a entrevista inteira a seguir para
reflexão e discussão entre os interessados pelas coisas da Igreja Católica. As
perguntas foram reordenadas.
1.
Como o Sr. recebeu a renúncia de Bento XVI?
Eu,
desde o principio, sentia muita pena dele, pois pelo que o conhecia,
especialmente em sua timidez, imaginava o esforço que devia fazer para saudar o
povo, abraçar pessoas, beijar crianças. Eu tinha certeza de que um dia ele
aproveitaria alguma ocasião sensata, como os limites físicos de sua saúde e o
menor vigor mental, para renunciar. Embora mostrou-se um Papa autoritário, não
era apegado ao cargo de Papa. Eu fiquei aliviado, porque a Igreja está sem
liderança espiritual que suscite esperança e ânimo. Precisamos de um outro
perfil de Papa mais pastor que professor, não um homem da instituição-Igreja,
mas um representante de Jesus que disse: “se alguém vem a mim eu não mandarei
embora” (Evangelho de João 6,37), podia ser um homoafetivo, uma prostituta, um
transexual.
2.
Como é a personalidade de Bento XVI já que o Sr. privou de certa amizade com
ele?
Conheci
Bento XVI nos meus anos de estudo na Alemanha entre 1965-1970. Ouvi muitas
conferências dele, mas não fui aluno dele. Ele leu minha tese doutoral: “O
lugar da Igreja no mudo secularizado” e gostou muito a ponto de achar uma
editora para publicá-la, um calhamaço de mais de 500 páginas. Depois
trabalhamos juntos na revista internacional Concilium, cujos diretores se
reuniam todos os anos na semana de Pentecostes em algum lugar na Europa. Eu a
editava em português. Isso entre 1975-1980. Enquanto os outros faziam sesta, eu
e ele passeávamos e conversávamos temas de teologia, sobre a fé na América
Latina, especialmente sobre São Boaventura e Santo Agostinho, do quais é
especialista e eu até hoje os frequento a miúde.
Depois,
em 1984, nos encontramos num momento conflitivo: ele como meu julgador no
processo do ex-Santo Ofício, movido contra meu livro Igreja: carisma e poder
(Vozes 1981). Ai tive que sentar na cadeirinha onde Galileo Galilei e Giordano
Bruno, entre outros, sentaram. Submeteu-me a um tempo de “silêncio obsequioso”;
tive que deixar a cátedra e fui proibido de publicar qualquer coisa. Depois
disso nunca mais nos encontramos. Como pessoa é finíssimo, tímido e
extremamente inteligente.
3.
Ele como Cardeal foi o seu Inquisidor depois de ter sido seu amigo: como viu
esta situação?
Quando
foi nomeado Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Inquisição)
fiquei sumamente feliz. Pensava com meus botões: finalmente teremos um teólogo
à frente de uma instituição com a pior fama que se possa imaginar. Quinze dias
após me respondeu, agradecendo e disse: vejo que há várias pendências suas aqui
na Congregação e temos que resolvê-las logo. É que praticamente a cada livro
que publicava vinham de Roma perguntas de esclarecimento que eu demorava em
responder. Nada vem de Roma sem antes de ter sido enviado a Roma.
Havia
aqui bispos conservadores e perseguidores de teólogos da libertação que
enviavam as queixas de sua ignorância teológica a Roma a pretexto de que minha
teologia poderia fazer mal aos fiéis. Ai eu me dei conta: ele já foi contaminado
pelo bacilo romano que faz com que todos os que ai trabalham no Vaticano
rapidamente encontrem mil razões para serem moderados e até conservadores.
Então, sim, fiquei mais que surpreso, verdadeiramente decepcionado.
4.
Como o Sr. recebeu a punição do “silêncio obsequioso”?
Após
o interrogatório e a leitura de minha defesa escrita, que está como adendo da
nova edição de Igreja: carisma e poder (Record 2008), são 13 cardeais que
opinam e decidem. Ratzinger é um apenas entre eles. Depois submetem a decisão
ao Papa. Creio que ele foi voto vencido, porque conhecia outros livros meus de
teologia, traduzidos para alemão, e me havia dito que tinha gostado deles, até,
uma vez, diante do Papa numa audiência em Roma fez uma referência elogiosa. Eu
recebi o “silêncio obsequioso” como um cristão ligado à Igreja o faria:
calmamente o acolhi. Lembro que disse: “é melhor caminhar com a Igreja que
sozinho com minha teologia”. Para mim foi relativamente fácil aceitar a
imposição, porque a Presidência da CNBB me havia sempre apoiado e dois
Cardeais, Dom Aloysio Lorscheider e Dom Paulo Evaristo Arns, me acompanharam a
Roma e depois participaram, numa segunda parte, do diálogo com o Cardeal
Ratzinger e comigo. Ai éramos três contra um. Colocamos algumas vezes o Cardeal
Ratzinger em certo constrangimento, pois os cardeais brasileiros lhe
asseguravam que as críticas contra a teologia da libertação que ele fizera num
documento saído recentemente eram eco dos detratores e não uma análise
objetiva. E pediram um novo documento positivo; ele acolheu a ideia e realmente
o fez dois anos após. E até pediram a mim e ao meu irmão teólogo Clodovis, que
estava em Roma, que escrevêssemos um esquema e o entregássemos na Sagrada
Congregação. E num dia e numa noite o fizemos e o entregamos.
5.
O Sr deixou a Igreja em 1992. Guardou alguma mágoa de todo o affaire no
Vaticano?
Eu
nunca deixei a Igreja. Deixei uma função dentro dela, que é de padre. Continuei
como teólogo e professor de teologia em várias cátedras aqui e fora do país.
Quem entende a lógica de um sistema autoritário e fechado, que pouco se abre ao
mundo, não cultiva o diálogo e a troca (os sistemas vivos vivem na medida em
que se abrem e trocam), sabe que se alguém, como eu, não se alinhar totalmente
a tal sistema, será vigiado, controlado e eventualmente punido. É semelhante
aos regime de segurança nacional que temos conhecido na América Latina sob os
regimes militares no Brasil, na Argentina, no Chile e no Uruguai. Dentro desta
lógica, o então Presidente da Congregação da Doutrina da Fé (ex-Santo Oficio,
ex-Inquisição), o Cardeal J. Ratzinger, condenou, silenciou, depôs de cátedra
ou transferiu mais de cem teólogos. Do Brasil fomos dois: a teóloga Ivone
Gebara e eu. Em razão de entender a referida lógica, e lamentá-la, sei que eles
estão condenados a fazer o que fazem na maior das boas vontades. Mas como dizia
Blaise Pascal: “Nunca se faz tão perfeitamente o mal como quando se faz de boa
vontade”. Só que esta boa vontade não é boa, pois cria vítimas. Não guardo
nenhuma mágoa ou ressentimento, pois exerci compaixão e misericórdia por
aqueles que se movem dentro daquela lógica que, a meu ver, está a quilômetros
luz da prática de Jesus. Aliás é coisa do século passado, já passado. E evito
voltar a isso.
6.
Como o Sr. avalia o pontificado de Bento XVI? Soube gerenciar as crises
internas e externas da Igreja?
Bento
XVI foi um eminente teólogo, mas um Papa frustrado. Não tinha o carisma de
direção e de animação da comunidade, como tinha João Paulo II. Infelizmente ele
será estigmatizado, de forma reducionista, como o Papa onde grassaram os
pedófilos, onde os homoafetivos não tiveram reconhecimento e as mulheres foram
humilhadas como nos EUA, negando o direito de cidadania a uma teologia feita a
partir do gênero. E também entrará na história como o Papa que censurou
pesadamente a Teologia da Libertação, interpretada à luz de seus detratores, e
não à luz das práticas pastorais e libertadoras de bispos, padres, teólogos,
religiosos/as e leigos que fizeram uma séria opção pelos pobres contra a
pobreza e a favor da vida e da liberdade. Por esta causa justa e nobre foram
incompreendidos por seus irmãos de fé, e muitos deles presos, torturados e
mortos pelos órgãos de segurança do Estado militar. Entre eles estavam bispos
como Dom Angelelli, da Argentina, e Dom Oscar Romero, de El Salvador. Dom
Helder foi o mártir que não mataram. Mas a Igreja é maior que seus papas e ela
continuará, entre sombras e luzes, a prestar um serviço à humanidade, no
sentido de manter viva a memória de Jesus, de oferecer uma fonte possível de
sentido de vida que vai para além desta vida. Hoje sabemos pelo Vatileaks que
dentro da Cúria romana se trava uma feroz disputa de poder, especialmente entre
o atual Secretário de Estado Bertone e o ex-secretário Sodano, já emérito.
Ambos têm seus aliados. Bertone, aproveitando as limitações do Papa, construiu
praticamente um governo paralelo. Os escândalos de vazamento de documentos
secretos da mesa do Papa e do Banco do Vaticano, usado pelos milionários
italianos, alguns da mafia, para lavar dinheiro e mandá-lo para fora, abalaram
muito o Papa. Ele foi se isolando cada vez mais. Sua renúncia se deve aos
limites da idade e das enfermidades, mas foram agravadas por estas crises
internas que o enfraqueceram e que ele não soube ou não pode atalhar a tempo.
7.
O Papa João XXIII disse que a Igreja não pode virar um museu, mas uma casa com
janelas e portas abertas. O Sr. acha que Bento XVI não tentou transformar a
Igreja novamente em algo como um museu?
Bento
XVI é um nostálgico da síntese medieval. Ele reintroduziu o latim na missa,
escolheu vestimentas de papas renascentistas e de outros tempos passados,
manteve os hábitos e os cerimoniais palacianos; para quem iria comungar,
oferecia primeiro o anel papal para ser beijado e depois dava a hóstia, coisa
que nunca mais se fazia. Sua visão era restauracionista e saudosista de uma
síntese entre cultura e fé, que existe muito visível em sua terra natal, a
Baviera, coisa que ele explicitamente comentava. Quando na Universidade, onde
ele estudou e eu também, em Munique, viu um cartaz me anunciando como professor
visitante para dar aulas sobre as novas fronteiras da teologia da libertação,
pediu ao reitor que protelasse esse dia, o convite já acertado. Seus ídolos
teológicos são Santo Agostinho e São Boaventura, que mantiveram sempre uma
desconfiança de tudo o que vinha do mundo, contaminado pelo pecado e
necessitado de ser resgatado pela Igreja. É uma das razões que explicam sua
oposição à modernidade, que a vê sob a ótica do secularismo e do relativismo e
fora do campo de influência do cristianismo que ajudou a formar a Europa.
8.
A igreja vai mudar, em sua opinião, a doutrina sobre o uso de preservativos e
em geral a moral sexual?
A
Igreja deverá manter as suas convicções, algumas que estima irrenunciáveis como
a questão do aborto e da não manipulação da vida. Mas deveria renunciar ao
status de exclusividade, como se fora a única portadora da verdade. Ela deve se
entender dentro do espaço democrático, no qual sua voz se faz ouvir junto com outras
vozes. E as respeita e até se dispõe a aprender delas. E quando derrotada em
seus pontos de vista, deveria oferecer sua experiência e tradição para melhorar
onde puder melhorar e tornar mais leve o peso da existência. No fundo, ela
precisa ser mais humana, humilde e ter mais fé, no sentido de não ter medo. O
que se opõe à fé não é o ateísmo, mas o medo. O medo paralisa e isola as
pessoas das outras pessoas. A Igreja precisa caminhar junto com a humanidade,
porque a humanidade é o verdadeiro Povo de Deus. Ela o mostra mais
conscientemente, mas não se apropria com exclusividade desta realidade.
9.
O que um futuro Papa deveria fazer para evitar a emigração de tantos fiéis para
outras igrejas, e especialmente pentecostais?
Bento
XVI freou a renovação da Igreja incentivada pelo Concílio Vaticano II. Ele não
aceita que na Igreja haja rupturas. Assim que preferiu uma visão linear,
reforçando a tradição. Ocorre que a tradição a partir dos séculos XVIII e XIX
se opôs a todas as conquistas modernas, da democracia, da liberdade religiosa e
outros direitos. Ele tentou reduzir a Igreja a uma fortaleza contra estas
modernidades. E via no Vaticano II o cavalo de Troia por onde elas poderiam
entrar. Não negou o Vaticano II, mas o interpretou à luz do Vaticano I, que é todo
centrado na figura do Papa com poder monárquico, absolutista e infalível. Assim
se produziu uma grande centralização de tudo em Roma sob a direção do Papa que,
coitado, tem que dirigir uma população católica do tamanho da China. Tal opção
trouxe grande conflito na Igreja até entre inteiros episcopados, como o alemão
e francês, e contaminou a atmosfera interna da Igreja com suspeitas, criação de
grupos, emigração de muitos católicos da comunidade e acusações de relativismo
e magistério paralelo. Em outras palavras, na Igreja não se vivia mais a
fraternidade franca e aberta, um lar espiritual comum a todos. O perfil do
próximo Papa, no meu entender, não deveria ser o de um homem do poder e da
instituição. Onde há poder, inexiste amor e desaparece a misericórdia. Deveria
ser um pastor, próximo dos fiéis e de todos os seres humanos, pouco importa a
sua situação moral, étnica e política. Deveria tomar como lema a frase de Jesus
que já citei anteriormente: “Se alguém vem a mim, eu não o mandarei embora”,
pois acolhia a todos, desde uma prostituta como Madalena até um teólogo como
Nicodemos.
Não
deveria ser um homem do Ocidente que já é visto como um acidente na história.
Mas um homem do vasto mundo globalizado, sentindo a paixão dos sofredores e o
grito da Terra devastada pela voracidade consumista. Não deveria ser um homem
de certezas, mas alguém que estimulasse a todos a buscarem os melhores
caminhos. Logicamente se orientaria pelo Evangelho, mas sem espírito
proselitista, com a consciência de que o Espírito chega sempre antes do
missionário e o Verbo ilumina a todos que vêm a este mundo, como diz o
evangelista São João. Deveria ser um homem profundamente espiritual e aberto a
todos os caminhos religiosos, para juntos manterem viva a chama sagrada que
existe em cada pessoa: a misteriosa presença de Deus. E, por fim, um homem de
profunda bondade, no estilo do Papa João XXIII, com ternura para com os
humildes e com firmeza profética para denunciar quem promove a exploração e faz
da violência e da guerra instrumentos de dominação dos outros e do mundo. Que
nas negociações que os cardeais fazem no conclave e nas tensões das tendências,
prevaleça um nome com semelhante perfil. Como age o Espírito Santo ai é
mistério. Ele não tem outra voz e outra cabeça do que aquela dos cardeais. Que
o Espírito não lhes falte.
segunda-feira, 11 de março de 2013
Pastor chama religiosos à ‘batalha’ contra gays
Sob críticas desde que foi escolhido
para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado-pastor Marco
Feliciano (PSC-SP) tenta converter a polêmica numa cruzada religiosa. Em
panfleto veiculada no Facebook, ele convocou líderes evangélicos e católicos da
cidade de Ribeirão Preto e arredores para uma reunião nesta segunda-feira (11).
Valendo-se de linguagem bélica,
anotou que o alvo de seus antagonistas não é ele: “Estamos vivenciando a maior
de todas as batalhas contra a família brasileira.” Sustenta que é a igreja que
“está sendo bombardeada”. Identifica a munição e aponta o inimigo: são
“mentiras insinuadas por grupo de bandeira LGTB (gays, lésbicas, bissexuais e
travestis)”.
Feliciano chama pastores e padres
para a reunião em que se discutirá “o futuro de nossas igrejas diante deste
grande embate”. Parece interessado em exibir sua infantaria: “Toda a imprensa
estará presente, precisamos mostrar nossa união”, realça o panfleto.
Fonte: http://josiasdesouza.blogosfera.uol
sexta-feira, 8 de março de 2013
Presidente da CDH é acusado de estelionato
Marcos Feliciano |
O novo
presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Marco
Feliciano (PSC-SP), é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de
estelionato. Ele é acusado de ter inventado um acidente no Rio de Janeiro para
justificar a ausência em evento no Rio Grande do Sul, para o qual já havia
recebido cachê, passagens e hospedagem.
A vítima
sustenta que, ao faltar ao compromisso, Feliciano optou por receber uma
remuneração maior no Rio. O deputado nega o estelionato e alega que faltou por
“motivos de força maior”. Ele disse ao Congresso em Foco que o “caso é um
grande mal-entendido”.
No dia 15 de
março de 2008, o Estádio Municipal Silvio de Farias Correia, em São Gabriel
(RS), município de 60 mil habitantes, a 320 km de Porto Alegre, reunia 7 mil
pessoas para um show gospel. Uma das atrações era a dupla sertaneja Rayssa e
Ravel. O encerramento, previsto para as 20h, seria feito pela principal estrela
do dia, o pastor Marco Feliciano, presidente da Assembleia de Deus Catedral do
Avivamento, sediada em São Paulo. Conhecido pelo estilo enfático de suas
pregações, ele atraiu caravanas de cidades vizinhas até São Gabriel.
Dona de uma
produtora então recém-criada, a advogada Liane Pires Marques promovia, então,
seu primeiro grande evento, o 1º Nettu’s Gospel, que se estendeu por todo
aquele sábado. “Fiz publicidade em todo o Rio Grande do Sul, com TV, folhetos e
rádios. Era um evento para 15 mil pessoas. Recebi confirmação de caravanas.
Paguei cachê e transporte aéreo, tudo o que ele me exigiu. Hotel de primeira
categoria”, disse a advogada ao Congresso em Foco nesta quinta-feira (7).
Segundo ela, o
acordo foi feito com o pastor André Luis de Oliveira, braço-direito e atual
assessor parlamentar de Feliciano na Câmara. Oliveira havia confirmado a
presença na véspera do evento. Às 8 horas do dia da apresentação, os dois
pastores eram aguardados no aeroporto de Porto Alegre por integrantes da
organização do evento gospel. Sem conseguir estabelecer contato com os dois
religiosos, eles esperaram até o meio-dia.
Voltaram para São Gabriel sem qualquer explicação.
“O mestre de
cerimônia anunciou no microfone que o pastor não compareceu, não cumpriu o
contrato e que iríamos tomar as medidas cabíveis. O público vaiou. Depois, a
ira se voltou contra mim. Fui xingada”, conta a ex-empresária. Liane diz que
perdeu credibilidade e nunca mais conseguiu realizar outro evento. A empresa
dela continua registrada, mas inativa.
Foro
privilegiado
Ela entrou com
processo contra Marco Feliciano na Justiça Criminal e na Justiça Cível. O
processo criminal, por estelionato, começou a correr na Vara Criminal de São
Gabriel, mas foi deslocado para o Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado
por causa da eleição de Feliciano como deputado. A ação penal 612 é relatada
pelo ministro Ricardo Lewandowski. Os parlamentares só podem responder
criminalmente ao Supremo.
No processo
cível (031/108.0000.9509), que ainda tramita na cidade gaúcha, ela reivindica
indenização pelos prejuízos que teve. Quatro anos depois do episódio, no ano
passado, a juíza que cuida do caso determinou que Marco Feliciano pagasse R$ 13
mil a Liane como devolução do cachê. O deputado pagou. Mas ela cobra mais. “O
prejuízo comprovado foi de quase R$ 100 mil na época. Contratei segurança,
comprei passagens aéreas. Banquei despesas dele em Porto Alegre. Tive gastos com
palco, iluminação, sonorização e a divulgação em todo o estado. Hoje está em
quase R$ 2 milhões”, diz a ex-produtora de eventos.
Liane conta que
o assessor de Feliciano lhe telefonou para dizer que ele e Feliciano haviam
sofrido um acidente no Rio e, por isso, não poderiam viajar até o Rio Grande do
Sul. Intrigada com a história, ela diz que pesquisou e não encontrou nenhum
registro de acidente no Rio envolvendo os dois pastores. Descobriu mais: “Ele
tinha contrato com uma rádio no Rio na sexta (14). E a rádio pediu pra ele
ficar mais um dia. Pelo sucesso que ele teve, dobraram o cachê dele, que seria
o dobro do meu, para ele ficar no sábado.”
Ludibriar
Autora da
denúncia, a promotora de Justiça Ivana Machado Battaglin, de São Gabriel, diz
que a marcação de dois eventos, em cidades distantes, caracteriza o crime de
estelionato. “No momento em que marca dois eventos para mesma data, é porque
ele não pretendia cumprir um deles. Ele tentou ludibriá-la. Ele não é
onipresente”, afirmou a promotora ao Congresso em Foco.
A reportagem
procurou o deputado, mas não conseguiu localizá-lo. O celular dele estava
desligado. Mas, em junho do ano passado, Marco Feliciano declarou à Revista
Congresso em Foco que não compareceu ao evento por “motivos de força maior”.
“Fui contratado para realização de um show gospel na cidade de São Gabriel. Não
pude comparecer por motivos de força maior e minha equipe, em contato com os
realizadores do evento, decidiu que outra data seria agendada para
comparecimento. Todavia, fui surpreendido pela ação em epígrafe, mas esclareço
que os valores pagos pelos idealizadores do evento já foram devidamente
restituídos com juros e correções de praxe”, afirmou o deputado à época.
A ex-produtora
de eventos diz que Marco Feliciano se recusou, inicialmente, a devolver o
cachê. Só o fez durante o andamento do processo cível na Justiça. Em vez de
devolver o dinheiro, o pastor propôs fazer uma nova apresentação na cidade.
“Meu contrato com ele era para aquele dia. Ele queria que eu montasse toda a
estrutura novamente para ele vir. Gastei de R$ 70 mil a R$ 80 mil. Estou
terminando de pagar contas ainda este ano. Foi o meu primeiro e único evento”,
conta Liane. Advogada, ela deixou a produtora de lado e voltou ao exercício da
profissão. “Não tive como seguir diante do que aconteceu. Não tive mais
credibilidade. Estou aguardando a Justiça me dar uma sentença favorável para,
talvez, um dia voltar”, explica.
Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/presidente-da-cdh-e-acusado-de-estelionato/
Paróquia acusada de dar calote em fiéis
O padre Oscar
Donizete Clemente e um grupo de religiosos da paróquia Santa Cruz, de São José
do Rio Preto, no interior de São Paulo, são acusados de dar o calote em cerca
de 120 pessoas que participariam de uma excursão para o Vaticano. A viagem,
marcada a princípio para setembro de 2012 e depois adiada em um mês, foi
cancelada e os turistas não receberam o dinheiro de volta.
“A viagem foi paga na secretaria da paróquia e o padre fazia
propaganda nas missas”, afirma o jornalista Roger Guilherme de Assis, que tenta
recuperar R$ 4 mil. A propaganda era feita na internet pelo site
gruporeligioso.com.br. O padre confirma que convidou fiéis na missa para fazer
a viagem, mas diz se tratar de um mal entendido.
A viagem, cancelada por excesso de desistências, foi organizada
por Waine Valéria Dutra, colaboradora da paróquia. Seu advogado, Siel Faustino,
diz que a devolução dos pacotes pelas operadoras demora até 180 dias e garante
que Waine ressarciu 80% dos turistas com o próprio dinheiro. “Falta só um grupo
de 20 a 30 pessoas para receber”, diz. Outras, segundo ele, questionam apenas o
valor já recebido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
quarta-feira, 6 de março de 2013
Como entender o Papado? (Alguns subsídios de ordem histórica)
Eduardo Hoornaert |
Logo após a conclusão do concílio Vaticano II,
houve intensas discussões acerca do papado. Muitas delas encontraram eco nas
páginas da revista Concilium ao longo da década de 1960. Dessas discussões
ficou a convicção de que é preciso conhecer melhor a história do papado e
evitar os anacronismos (projetar no passado situações presentes) e as
afirmações desprovidas de base histórica que permeiam o discurso acerca do governo
central da igreja católica. Diante de um tema que toca pontos nevrálgicos do
sistema católico e da sensibilidade católica, parece-me importante anotar aqui
alguns pontos básicos que costumam chegar à tona quando se fala em papado.
1. Pedro em Roma.
O bispo
Eusébio de Cesareia, teórico da política universalista do imperador
Constantino, redigiu, no século IV, listas de sucessivos bispos para as
principais cidades do império romano, na tentativa de adaptar o sistema cristão
ao modelo sacerdotal romano. Ele trabalhou de forma bastante aleatória. Assim ele
escreve, por exemplo, que Clemente foi ‘o terceiro bispo de Roma’, depois de
Lino e Anacleto. Conhecemos Clemente romano por suas cartas, mas nada sabemos
acerca de Lino e Anacleto. Ninguém sabe donde Eusébio tirou esses nomes,
trezentos anos após os acontecimentos. Para dar consistência à sua tese de que
Pedro é o primeiro papa, Eusébio escreve, no segundo livro (14, 6) de sua
‘História eclesiástica’, que o apóstolo Pedro viajou a Roma no início do reino
de Cláudio, ou seja, por volta do ano 44. O que os escritos do novo testamento
dizem a esse respeito? Nos Atos dos apóstolos (12, 17) se escreve que Pedro, em
43, saiu de Jerusalém e ‘foi para outro lugar’, sem especificar qual. Os mesmos
Atos relatam que Pedro está em Jerusalém no ano 49, por ocasião da visita de
Paulo. Nada se diz sobre a atuação do apóstolo entre 43 e 49. O mais provável é
que ele tenha viajado à Samaria como exorcista, pois os Atos relatam sua
disputa com outro exorcista, de nome Simão Mago, que atuava naquela região.
Enfim, as datas propostas por Eusébio não combinam com o que os Atos dos
apóstolos relatam. Os historiadores hoje concordam em dizer que Eusébio é um
historiador suspeito, pois está envolvido num projeto que tem como finalidade
articular a política imperial em relação ao cristianismo e ajustar o movimento
cristão a um modelo dinástico de tipo romano. Ele projeta a imagem da igreja no
século IV sobre o passado. Por exemplo, ele projeta a repartição territorial
das áreas de influência (dioceses), que faz parte da administração romana, aos
primeiros tempos do cristianismo, sem nenhuma base historiográfica. Nos
capítulos 4 a
7 de sua História Eclesiástica, ele elabora listas de bispos monárquicos que
remontam até os apóstolos. Em tudo isso aparece a intenção de acomodar as
estruturas cristãs à organização imperial da época. Concluindo podemos dizer
que não há base histórica para a afirmação de que Pedro tenha estado em Roma e
com isso cai um dos principais fundamentos do discurso oficial acerca do
papado.
2. ‘Tu és Pedro’
Hoje, as palavras ‘Tu
és Pedro e sobre esta pedra construirei minha igreja’ figuram em enormes letras
no interior da cúpula da basílica de São Pedro, em Roma. Vale a pena
observar que se trata aqui de um verso isolado do evangelho de Mateus. Contudo,
o sentido do verso só aparece quando é lido em contexto, ou seja, dentro da
sequência de quatro versos entre Mt 16, 16-19. O historiador ortodoxo
Meyendorff[1] mostra como esses versos foram entendidos
nos séculos anteriores a Constantino e à aliança entre as lideranças cristãs e
as autoridades do império romano. Trata-se, conforme o historiador, de um
elogio de Jesus dirigido a Pedro. Quando este afirma que Jesus não é um profeta
entre outros, mas o ungido de Deus, ele mostra que Jesus não segue a
tradicional maneira de agir dos profetas do antigo testamento, que ameaçavam e
intimidavam as pessoas falando da ira de Deus por causa dos pecados e da
necessidade de penitência. Pedro entende que Jesus, que não ameaça nem condena,
mas aponta para o reino de Deus, a graça, a misericórdia, o perdão, é
diferente. Deve ser o ungido de Deus tão esperado, pensa ele. E Jesus elogia
Pedro por expressar de forma tão feliz a novidade que ele mesmo vem trazer. É
como se ele quisesse dizer: você capta minha intenção, você é a pedra sobre a
qual pretendo construir minha igreja, se todos entendessem o que você diz aqui,
minha igreja estaria bem forte.
Eusébio
de Cesareia e os demais teólogos comprometidos com a ideologia imperial romana
não lêem o verso 18 de seu contexto, o isolam dos demais (vv. 16 a 19) e desse modo dão um
significado diferente às palavras de Mateus. Hoje, Eusébio tem de ser
severamente criticado (assim como os que o seguem na exegese de Mt 16, 18),
pois a exegese atual é taxativa em afirmar que não se pode isolar um texto de
seu conjunto literário e transformá-lo em oráculo. Para quem
lê os evangelhos em contexto fica claro que não dá para se imaginar que Jesus
tenha planejado uma dinastia apostólica de caráter corporativo, baseada em
sucessão de poderes.
Sempre
mais me convenço que o caminho certo, para analisar o papado, consiste em
prestar atenção à religião do povo. A palavra ‘papa’ (pope) pertence ao grego
popular do século III e é um termo derivado da palavra grega ‘pater’ (pai). Ela
expressa o carinho que os cristãos tinham por determinados bispos ou
sacerdotes. O termo penetrou no vocabulário cristão, tanto da igreja ortodoxa
como da católica. No interior da Rússia, até hoje, o pastor da comunidade é
chamado ‘pope’. A história conta que o primeiro bispo a ser chamado ‘papa’ foi
Cipriano, bispo de Cartago entre 248 e 258 e que o termo ‘papa’ só apareceu
tardiamente em Roma: o primeiro bispo daquela cidade a receber oficialmente
esse nome (segundo a documentação disponível) foi João I, no século VI.
Não se tem dado, entre nós, a devida atenção à
religião popular na construção do cristianismo. É um dado implícito a toda a
história da igreja, mas que passa largamente despercebido e sem comentário.
Isso provém, em parte, do fato de que, até pouco tempo atrás, a historiografia
cristã estava principalmente baseada no estudo de fontes escritas. Ora, essas
fontes praticamente nunca abordam a religião do povo. Isso, aliás, é regra geral:
intelectuais não costumam mostrar interesse pelo que se passa no meio do povo
comum e anônimo. A ‘plebe’ não retém a atenção de filósofos como Platão,
Aristóteles, Cícero ou Sêneca, ou de intelectuais proeminentes como Galeno,
Plotino ou Marco Aurélio. Nem mesmo autores cristãos como Justino, Ireneu,
Tertuliano, Cipriano, Clemente de Alexandria ou Orígenes descrevem o que se
passa entre cristãos comuns. Afinal eles também pertencem à elite letrada. Hoje
existem ciências que nos revelam a vida vivida daqueles tempos, para além dos
escritos, como a arqueologia e a iconografia, ou seja. o estudo da arte cristã.
O estudo da arte
cristã no decorrer do século IV mostra que praticamente tudo que se conta sobre
Pedro provém da religião popular. Na época da construção das primeiras
basílicas cristãs (segunda parte do século IV), se convidaram artistas que
trabalhavam com mosaicos para cobrir as paredes de cenas relativas aos
evangelhos e á vida da igreja. Assim apareceram as mais variadas imagens de
Pedro: crucificado de cabeça para baixo, com as chaves na mão, pescador,
segurando na mão direita a maquete de alguma nova igreja, revestido de vestes
sacerdotais romanas (alba, estola, manípulo), com a tiara persa ou a mitra
mesopotâmica (da liturgia do deus Mitra) na cabeça, com seu barco (que nunca
afunda), sua rede (que pesca homens), seu selo, sua cátedra (a santa sé). Mas a
imagem que aparece com mais frequência é a do túmulo de Pedro, ao lado do
túmulo de Paulo. Efetivamente, o papa é antes de tudo visto como o guardião dos
túmulos de Pedro e Paulo. Uma tradição romana muito antiga reza que Pedro foi
martirizado no monte Vaticano e Paulo ‘fora dos muros’. Desde cedo se registram
‘romarias’ aos túmulos dos apóstolos-mártires Pedro e Paulo[2].
Sem documentação que provasse a veracidade da presença de Pedro e Paulo em
Roma, as histórias sobre ambos proliferam em Roma. Já no século II, ir
a Roma significa visitar os túmulos sagrados, como comprovam os escritos de
Justino e Inácio de Antioquia. O papa Pio XII ainda procurou reavivar a
tradição dessas romarias por meio do ‘ano santo’ de 1950, que foi um sucesso e
mais tarde, em 1956, ele mandou executar escavações num cemitério antigo
descoberto em 1956 sob uma garagem em construção no Vaticano. Nesse cemitério
eram enterradas pessoas pobres, escravos e libertos até nos séculos IV e V. O
papa esperou encontrar aí sinais do túmulo de Pedro, mas as obras foram
suspensas por falta de evidências[3].
Tudo isso indica que a instituição cristã, da maneira como funciona
concretamente, pode ser considerada uma criação da religião popular. Para os
bispos, não é tão fácil aceitar isso, mas não há como fugir da evidência. Todos
sabemos que o povo sustenta financeiramente a hierarquia (de uma ou outra
forma) e que é ele que confere prestígio e honorabilidade a bispos e papas.
Afinal, o que seria do papa se ninguém mais saísse de casa para ir vê-lo e
aclamá-lo?
Interessante observar que os próprios papas têm sua
‘religiosidade’. Até agora, nenhum papa se atreveu a adotar o nome Pedro. Só
tardiamente, no século VI, um papa adotou o nome João e só no século VIII veio
o primeiro Paulo. Há muitos detalhes interessantes nesse sentido, que não
menciono aqui por falta de espaço, mas que você pode pesquisar na google.
A
partir do século III desencadeia-se, entre os bispos das quatro principais
metrópoles do império romano (Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Roma),
uma prolongada luta pelo poder. Essa luta é particularmente dramática na parte
oriental do império, onde se fala a língua grega. Os bispos em litígio passam a
ser chamados ‘patriarcas’. Esse termo acopla o ‘pater’ grego com o poder
político (‘archè’, em grego, significa ‘poder’), o que significa que o
patriarca é ao mesmo tempo pai e líder político. Nos inícios, Roma participa
pouco dessa disputa, por ficar longe dos grandes centros do poder da época e
usar uma língua menos universal (apenas usada na administração e no exército do
sistema imperial romano), o latim. Por sua vez, Jerusalém, cidade ‘matriz’ do
movimento cristão, fica fora do páreo por ser uma cidade de pouca importância
política.
Constantinopla
se autoproclama, em 330, a
‘segunda Roma’, um título aceito pelos bispos em 381, por ocasião do concílio de
Constantinopla. Doravante, o poder divino (exercido por Pedro) atua na ‘nova
Roma’, ou seja, em Constantinopla. Fortalecidos por esse consenso,
os patriarcas de Constantinopla se metem sempre mais em assuntos internos das
demais igrejas, um processo que culmina em Calcedônia (451), quando
Constantinopla nomeia bispos para Antioquia e Alexandria. A ideia da
transferência do ‘poder de Pedro’ ainda faz sucesso no século XVI, quando o
patriarca Jeremias II Tranos, de Constantinopla, viaja à Rússia (1589),
impressionado pelo vigor do cristianismo naquele país, faz de Moscou uma
‘terceira Roma’. Prontamente, a cidade se torna centro de peregrinação. Assim
como os francos e germânicos peregrinam para Roma, os eslavos e russos
peregrinam para Moscou. A identificação entre o império romano, sua memória,
seus símbolos, seus ritos, suas vestes e cerimônias e os impérios bizantino,
carolíngio, russo e católico é algo que salta à vista do historiador.
Efetivamente, ‘o mundo gira, mas a cruz fica’[4].
O patriarca de Roma, que no início não ocupa um
papel de destaque na luta pela hegemonia sobre a cristandade toda, não deixa, desde cedo, de fazer valer seu poder na
parte ocidental do império. Já no século III, o já citado bispo Cipriano, de
Cartago, reage com energia diante das pretensões hegemônicas do bispo de Roma e
repete que entre os bispos há de reinar uma ‘completa igualdade de funções e
poder’. Mas a história progride inexoravelmente. Com tenacidade, os sucessivos
patriarcas de Roma conseguem ampliar sua ascendência sobre as demais igrejas do
ocidente. É uma longa história da qual aponto aqui apenas alguns momentos
marcantes[5].
Penso que é importante percorrer as sucessivas etapas, pois desse modo fica
mais fácil compreender que o papado é uma construção histórica condicionada pelo
tempo e pelo espaço, como tudo que o homem faz. Tudo que o homem constroi pode
ser desconstruído, remodelado ou substituído por algo mais condizente com as
exigências do momento.
- Até o final do
século III, o papado não se mete nas decisões feitas pelas reuniões de bispos.
Eles são livres e soberanos. Mas já se anunciam problemas no horizonte.
- A mesma atitude perdura na primeira parte do
século IV.Os bispos locais mantêm sua independência diante de Roma, embora
sempre manifestem respeito para com o patriarca de Roma. Assim nas reuniões
episcopais de Arles (314), Nicéia (325) e Sárdico (342). Quando há um caso, o
bispo de Roma é notificado, nada mais. Os patriarcas Silvestre e Libério não
interferem em decisões tomadas nas reuniões de bispos (concílios).
- As coisas começam a mudar na segunda parte do
século IV. Os patriarcas romanos Damásio (366-384) e Sirico (384-399) se
mostram destemidos e atribuem a Pedro (e seus sucessores) títulos da
nomenclatura religiosa romana, como ‘sumo pontífice’, ‘príncipe (dos
apóstolos)’, ‘vigário (de Cristo)’. Bispos como Basílio e Ambrósio não aprovam
as manobras romanas, mas mesmo assim os patriarcas romanos avançam em busca de
controle sobre os bispos.
- Sob Inocêncio I, no início do século V, o
processo da romanização da igreja cristã no Ocidente avança. Inocêncio intervém
sistematicamente nos assuntos de igrejas locais na Gália, Espanha e Ilíria, ele
exige relatórios se reserva a última decisão. Às reuniões episcopais de Cartago
e Mileve (acerca do pelagianismo), ele manda dizer que um caso só se resolve
após passar por Roma. Celestino I segue o mesmo caminho e resolve soberanamente
o caso de Nestório (de Alexandria), e delega Cirilo de Alexandria ao concílio
de Éfeso (431). Mais uma vez, bispos e teólogos reagem. Mesmo Agostinho não
concorda, embora se diga que ele seja autor da frase ‘Roma falou, a discussão
terminou’[6].
Ele mantém a ideia tradicional: a autoridade romana tem de respeitar a
soberania dos concílios episcopais. O primado do bispo de Roma é apenas
honorário.
- Mas o processo da centralização romana continua.
Leão I intensifica a mística petrina e principalmente a mitologia em torno da
imagem de Pedro. Ele tem a ousadia de afirmar que sua autoridade (a ‘plenitude
do poder’[7]),
provém diretamente de Cristo. O ‘vigário de Cristo’ é o ‘príncipe dos
apóstolos’, não é o ‘primeiro entre pares[8]’
(como dizia Eusébio), nem uma autoridade ‘honorária’ (como dizia Agostinho).
Nos concílios realizados da Espanha, da Itália do Norte e da África do Norte,
Leão age em chefe absoluto e intervém em mínimos detalhes. Mesmo no oriente ele
se atreve a interferir. Na controvérsia monofisita, ele despreza a intervenção
do patriarca de Alexandria e manda seus próprios legados, transmite ordens aos
padres reunidos em Calcedônia e declara nulas as decisões que não lhe agradam.
Essa postura mandante impressiona muito os contemporâneos, que conservam
cuidadosamente sua correspondência, que passa a constituir a base da teoria
papal vigente até nossos dias.
- A vitória definitiva do papado vem com Gregório
Magno, que cria em Lérins, na atual França, uma escola de ‘aristocratas
episcopais’ a estabelecer a organização eclesiástica no sul da Gália.
Intelectual de renome, Gregório inicia os tempos da glória romana. Sua figura
pode ser arrolada ao lado de outros expoentes da ‘aristocracia episcopal’, como
Ambrósio, protagonista da supremacia da igreja sobre o estado; Agostinho, ao
mesmo tempo ‘pai da inquisição’ e genial teólogo; João Crisóstomo, orador de
renome e Cirilo de Alexandria, fundador da tradição teológica grega.
- O caminho está pavimentado. Após a bem sucedida aliança com o emergente
poder germânico no ocidente (Carlos Magno, 800), os papas romanos sempre mais
elevam o tom da voz e, por conseguinte, as relações com os patriarcas orientais
(principalmente com o patriarca de Constantinopla) se tornam sempre mais
tensas. O cisma de 1054 vem concluir uma evolução de séculos. Rompe-se a
unidade do corpo cristão e dois caminhos se abrem: o ortodoxo e o católico.
6. Roma
no auge do poder.
Aí
começa a história da igreja católica apostólica romana propriamente dita. É uma
história de sucesso, durante séculos. Esse sucesso provém principalmente da
diplomacia, ou seja, da ‘arte da corte’ que Roma aprendera com Constantinopla.
Ao longo dos séculos, praticamente todos os governos da Europa ocidental
aprendem em Roma ou por Roma essa arte. Pois a diplomacia é uma arte nada
edificante mas muito eficiente. Ela inclui hipocrisia, aparência, habilidade em
lidar com o povo, impunidade, sigilo, linguagem codificada (inacessível aos
fiéis), palavras piedosas (e enganosas), crueldade encoberta de caridade,
acumulação financeira (indulgências, ameaça do inferno, do medo etc.). A
imponente ‘História criminal do cristianismo’, em 10 volumes, que o historiador
K. Deschner acaba de concluir, descreve essa arte eminentemente papal em
detalhes.
É
principalmente por meio da arte diplomática que, ao longo da idade média, o
papado tem sucessos fenomenais. Sem armas, Roma enfrenta os maiores poderes do
ocidente e sai vitoriosa (Canossa 1077). Como resultado, a igreja é afetada, no
dizer do historiador Toynbee, pela ‘embriaguez da vitória’. O papa perde
contato com a realidade do mundo e passa a viver num universo irreal, repleto
de palavras sobrenaturais (que ninguém entende).
7. Roma
ao lado dos mais fortes
Com o
advento da modernidade, o papado perde paulatinamente espaço público. No século
XIX, principalmente durante o longo pontificado de Pio IX, a antiga estratégia
de se opor aos ‘poderes deste mundo’ não funciona mais. Não traz mais vitórias,
registra apenas derrotas. Então, o papa Leão XIII resolve mudar a estratégia e
inicia uma política de apoio aos mais fortes, uma estratégia que funciona
durante todo o século XX. Bento XV sai da primeira guerra mundial ao lado dos
vitoriosos; Pio XI apoia Mussolini, Hitler e Franco, enquanto Pio XII pratica a
política do silêncio diante dos crimes contra a humanidade perpetrados durante
a segunda guerra mundial, à custa de incontáveis vidas humanas. Após uma breve
interrupção com João XXIII, a política de apoio silencioso aos ganhadores (e de
palavras genéricas de consolo aos perdedores) prossegue até os nossos dias.
8. O papado, um problema.
Por
tudo isso, pode-se dizer hoje que o papado não é uma solução, é um problema. Pois
o papa não é só um líder religioso, mas também um chefe de estado. Cada vez
mais se percebe como o papado é um desvio do episcopado. Esse episcopado
registra, ao longo dos séculos, páginas luminosas. Aqui na aqui na América
Latina tivemos, nos últimos tempos, além de bispos mártires como Romero e
Angelelli, uma geração de bispos excepcionais entre os anos 1960 e os anos
1990. É verdade que o concílio Vaticano II avançou a ideia da colegialidade
episcopal, no intuito de fortalecer o poder dos bispos e limitar o poder do
papa, mas sem avanços consideráveis, pelo menos até hoje. Mesmo assim, vale
lembrar que o catolicismo é maior que o papa e que a importância dos valores
veiculados pelo catolicismo é maior que o atual sistema de seu governo.
Tudo se
resume na seguinte pergunta: ‘pode a igreja católica subsistir sem papa?’ É
como se perguntar ‘ pode a França subsistir sem rei, a Inglaterra sem rainha, a
Rússia sem czar, o Irã sem aiatolá?’. A própria história dá resposta. A França
não se acabou com a destituição do rei Luis XVI e o Irã certamente não se
acabará com o fim do reino dos aiatolás. O surgimento do protestantismo no
século XVI comprovou que o cristianismo pode subsistir sem papa. Haverá
certamente resiliências e saudosismos, tentativas de volta ao passado, mas
instituições não costumam desaparecer com mudanças de governo. Em geral, o
movimento da história em direção a uma maior participação popular é
irreversível (ao que parece). Cedo ou tarde, a igreja católica terá de
enfrentar a questão da superação do papado por um sistema de governo central
mais condizente com os tempos que vivemos.
Notas:
[1] Meyendorff, The
Primacy of Peter. Essays on Ecclesiology and the Early Church, Crestwood (NY),
St. Vladimir‘s Seminary Press, 1992.
[2] As romarias ‘ad limina apostolorum’.
[3] Veja Revue d’ Histoire Écclésiastique, Louvain, 1976, 109-111, com comentário do livro de Väänänen sobre o assunto.
[4] Stat crux dum volvitur mundus.
[5] Veja Wojtowytsch, M., Papsstum und Konzile von den Anfängen bis zu Leo I (440-461). Studien zur Enstehung der Überordnung des Papstes über Konzile, Stuttgart, A Hiersemann Verlag, 1981.
[6] Roma locuta, causa finita
[7] Plenitudo potestatis.
[8] Primus inter pares. Essa é a tese clássica de Cipriano.
[2] As romarias ‘ad limina apostolorum’.
[3] Veja Revue d’ Histoire Écclésiastique, Louvain, 1976, 109-111, com comentário do livro de Väänänen sobre o assunto.
[4] Stat crux dum volvitur mundus.
[5] Veja Wojtowytsch, M., Papsstum und Konzile von den Anfängen bis zu Leo I (440-461). Studien zur Enstehung der Überordnung des Papstes über Konzile, Stuttgart, A Hiersemann Verlag, 1981.
[6] Roma locuta, causa finita
[7] Plenitudo potestatis.
[8] Primus inter pares. Essa é a tese clássica de Cipriano.
[Fonte: Servicios Koinonía].
Pastoral da Saúde realiza missa de protesto em frente ao Hospital Roberto Santos
Impedidos visitar pacientes do
Hospital Roberto Santos, membros da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de
Salvador realizam na tarde desta quarta-feira (6) uma missa na frente da
instituição em comemoração ao aniversário de 34 anos da unidade de saúde. “Nem
a missa natalina nós tivemos autorização para celebrar, como era de costume.
Vamos aos hospitais a pedido do próprio Cristo para acompanhar e ajudar os
doentes, e agora estamos proibidos de entrar no Roberto Santos”, afirma o
coordenador da Pastoral da Saúde, padre Jorge Brito. Segundo informações do
hospital, grupos religiosos deixaram de ter acesso aos doentes após reclamações
de pacientes e familiares de que estariam fazendo pregações sem questionar se
os enfermos tinham interesse em
ouvir. Por meio da assessoria de comunicação, o Roberto
Santos informou que está aberto ao diálogo para encontrar uma forma de dar
acesso aos grupos. Informações do Correio.
Fonte: http://www.bahianoticias.com.br
terça-feira, 5 de março de 2013
Menina é expulsa de igreja após discordar do padre em reunião
Paróquia São José das Palmeiras |
A mãe da adolescente, Rosane Bruno,
disse que a filha participa dos movimentos desde os quatro anos. Para ela, o
padre exagerou e vai responder na Justiça pela decisão. “Eu quero justiça para
ela, porque, agora, ela está impedida de ir á igreja, coisa que ela gosta, ela
está impedida de frequentar a catequese e o que vai ser dela. E se ele fizer
isso com outras crianças”, questionou a mãe.
De acordo com a coordenadora dos
coroinhas Sandra Menon, a discussão começou após a menina não concordar com as
responsabilidades que o grupo deveria ter com relação aos movimentos e às
cerimônias. “Ela questionou o padre. Por que tanto ir na igreja. Por que tem
que ir tanto na igreja? (...)E ela ainda dialogou: Padre, mas assim a gente não
vai sair da igreja. Daí começou. Ela começou a alterar a voz, o padre começou a
alterar a voz com ela. E nesse altera voz, ele [padre] falou que não aceitaria
ela mais como coroinha na igreja. [O padre falou] Você não precisa vir mais nem
na catequese nem participar de movimento nenhum e nem na igreja porque nem Deus
te quer assim. Pode ir para uma igreja evangélica", contou.
A mãe da menina também afirmou que a
filha chegou a casa chorando e muito “desesperada”. “Ela só falava que Deus não
queria ela mais na igreja”, completou.
O padre da casa paroquial de São José
das Palmeiras não foi encontrado para falar da situação. Por meio de
assessoria, o Bispo de Foz do Iguaçu, também no oeste, responsável pela igreja,
Dom Dirceu Vegine, disse que vai falar com a família e só depois irá se
manifestar.
Fonte: http://g1.globo.com
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