Djalma Torres
Os protestantes chegaram ao
Brasil ou aqui se organizaram em momentos históricos deferentes: os primeiros,
no início do século XIX, a fim de dar assistência aos imigrantes europeus;
décadas mais tarde chegaram várias denominações com propósitos missionários. Os
pentecostais surgiram aqui mesmo, no início do século XX e os neopentecostais
ou novos evangélicos, a partir da segunda metade do século passado.
Identificados como protestantes
e também como evangélicos, esse segmento cristão primou sempre por seriedade de
comportamento, separação entre Igreja e Estado e certa distância com relação a
questões políticas, culturais e sociais, com honrosas exceções.
Davam ênfase à evangelização, à
leitura da Bíblia e à fé em
Jesus Cristo. E se mantinham discretos no comportamento.
Assim fizeram história e assim têm vivido
ao longo de mais de um século.
Primavam por ética, justiça, direitos, etc. Havia cuidado e respeito na
relação com a sociedade e, reserva, medo até, de inserção no mundo político e
cultural do país.
É verdade que nem sempre estas características
marcaram a vida e a prática de algumas denominações, ou de seus líderes e
adeptos. É fácil identificar “pecados” no mundo protestante brasileiro, mas não
há como negar a seriedade com que se tem
comportado diante da sociedade e o zelo que têm revelado com o próximo.
Os fiéis contribuem para o
sustento do trabalho de suas igrejas e denominações: mantém pastores, escolas,
abrigos, creches, asilos para idosos e sustentam missionários em diversos
lugares, até fora do Brasil. Tudo tem girado em torno da expansão da Igreja e
da denominação. Os pastores servem à Igreja e não controlam os recursos nem da
Igreja e nem da denominação.
Assim tem sido durante muitas
décadas e ainda hoje algumas igrejas e denominações evangélicas se comportam
com toda transparência. Mas o mundo
religioso protestante brasileiro tem mudado, não é mais o mesmo. Pelo menos
vertentes do mundo conhecido como protestante mudaram. E mudaram de maneira
assustadora.
Exemplos não faltam: O
resultado de boas propinas tem sido motivo para agradecimento a Deus; aviões
transportam dinheiro arrecadado de inocentes fiéis em campanhas indecentes em
cultos diversos pelo país afora; em nome de Deus “milagres” impensáveis até por
Jesus Cristo “são realizados”, pobres “enriquecem” como num passo de mágica e
conchavos políticos são feitos sem nenhuma preocupação com ética e
dignidade. Há casos de reclamações,
queixas e medidas judiciais por parte de muita gente que se considera lesada
por essas igrejas.
Como se todos estes fatos
conhecidos não bastassem, fomos surpreendidos, recentemente, pela mídia, com a
informação da concessão pelo governo brasileiro, de passaportes diplomáticos ao
bispo Edir Macedo e esposa, ao apóstolo Valdemiro Santiago e esposa, ao
missionário R. R. Soares e esposa, ao Pastor da Assembléia de Deus, Samuel
Cássio Ferreira, e sua esposa, sob a argumentação, pelo Itamaraty, de que esse
tipo de documento pode ser concedido a pessoas “em função do interesse do
País”, de acordo com o Decreto 5.978, de 2006.
E mais absurdos vieram depois.
Na semana passada a mesma imprensa nacional publicou artigo da revista norte-americana
Forbes, especializada em informações de riquezas bilionárias pelo mundo, dando
conta das maiores fortunas dos pastores evangélicos brasileiros, como segue:
Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, US$ 950 milhões, correspondente,
aproximadamente, a 2 bilhões de reais.
Ele também é dono de várias empresas, como a Rede Record, o jornal Folha
Universal e uma gravadora de música gospel, entre outras; Valdemiro Santiago, da
Igreja Mundial do Poder de Deus, US$220 milhões, que chega perto dos 500
milhões de reais; Silas Malafaia, da Igreja Assembléia de Deus Vitória em
Cristo, US$ 150 milhões, que ultrapassa os 300 milhões de reais; R.R.Soares, da
Igreja Internacional da Graça de Deus, US$ 125 milhões, uma fortuna superior a
250 milhões de reais; e Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo, US$ 65
milhões, superior a 130 milhões de reais.
O protestantismo brasileiro,
mesmo com todas as suas fraquezas e múltiplas divisões, está longe de ser uma
“empresa eclesiástica” como têm sido caracterizadas muitas das igrejas chamadas
evangélicas em nossos dias. Quão
distantes estão elas da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo, - que dizemos
ser o Senhor da Igreja – que afirmou ter vindo ao mundo para servir e não para
ser servido e viveu peregrinando pelos
campos e vilas ajudando, gratuitamente, pessoas a reconquistarem a dignidade da
vida. Quão lamentável que, em nome de Deus, líderes, donos de igrejas, acumulem
fortunas espetaculares e se tornem tão poderosos que passem a merecer
passaportes diplomáticos do governo brasileiro. Como entristece a alma
saber que o Deus da vida esteja sendo transformado
no deus do mercado, no deus dos poderosos... evangélicos.
Salvador,
Bahia, 25 de janeiro de 2012
Pr.Djalma
Torres
torresdjalma@yahoo.com.br
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