Sobre o CEPESC

Salvador, Bahia, Brazil
CEPESC - Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. Nasceu do sonho, da utopia e da luta pela criação de um entidade que refletisse, a partir da perspectiva cristã e no contexto da diversidade cultural, social e religiosa brasileira e da Bahia, o mundo dos nossos dias de um modo abrangente e total, ou seja, nas suas dimensões social, econômica, política, educacional e religiosa. Por isso, adotou o lema Dignidade e plenitude da vida e da criação. Organizada em 23 de novembro de 1996, é uma entidade de caráter cultural, educacional, social e religioso. Tem como objetivos estimular, fazer e divulgar pesquisas no campo político, econômico, social, cultural e religioso e realizar trabalhos de educação, sociais, culturais e religiosos. Contato: 3266-5526

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

DO DEUS DA VIDA AO DEUS DO MERCADO


Djalma Torres

Os protestantes chegaram ao Brasil ou aqui se organizaram em momentos históricos deferentes: os primeiros, no início do século XIX, a fim de dar assistência aos imigrantes europeus; décadas mais tarde chegaram várias denominações com propósitos missionários. Os pentecostais surgiram aqui mesmo, no início do século XX e os neopentecostais ou novos evangélicos, a partir da segunda metade do século passado.
Identificados como protestantes e também como evangélicos, esse segmento cristão primou sempre por seriedade de comportamento, separação entre Igreja e Estado e certa distância com relação a questões políticas, culturais e sociais, com honrosas exceções.
Davam ênfase à evangelização, à leitura da Bíblia e à fé em Jesus Cristo. E se mantinham discretos no comportamento. Assim fizeram história e assim têm vivido  ao longo de mais de um século.  Primavam por ética, justiça, direitos, etc. Havia cuidado e respeito na relação com a sociedade e, reserva, medo até, de inserção no mundo político e cultural do país.
É verdade que nem sempre estas características marcaram a vida e a prática de algumas denominações, ou de seus líderes e adeptos. É fácil identificar “pecados” no mundo protestante brasileiro, mas não há como negar a seriedade  com que se tem comportado diante da sociedade e o zelo que têm revelado com o próximo.
Os fiéis contribuem para o sustento do trabalho de suas igrejas e denominações: mantém pastores, escolas, abrigos, creches, asilos para idosos e sustentam missionários em diversos lugares, até fora do Brasil. Tudo tem girado em torno da expansão da Igreja e da denominação. Os pastores servem à Igreja e não controlam os recursos nem da Igreja e nem da denominação.   
Assim tem sido durante muitas décadas e ainda hoje algumas igrejas e denominações evangélicas se comportam com toda transparência.  Mas o mundo religioso protestante brasileiro tem mudado, não é mais o mesmo. Pelo menos vertentes do mundo conhecido como protestante mudaram. E mudaram de maneira assustadora.
Exemplos não faltam: O resultado de boas propinas tem sido motivo para agradecimento a Deus; aviões transportam dinheiro arrecadado de inocentes fiéis em campanhas indecentes em cultos diversos pelo país afora; em nome de Deus “milagres” impensáveis até por Jesus Cristo “são realizados”, pobres “enriquecem” como num passo de mágica e conchavos políticos são feitos sem nenhuma preocupação com ética e dignidade.  Há casos de reclamações, queixas e medidas judiciais por parte de muita gente que se considera lesada por essas igrejas. 
Como se todos estes fatos conhecidos não bastassem, fomos surpreendidos, recentemente, pela mídia, com a informação da concessão pelo governo brasileiro, de passaportes diplomáticos ao bispo Edir Macedo e esposa, ao apóstolo Valdemiro Santiago e esposa, ao missionário R. R. Soares e esposa, ao Pastor da Assembléia de Deus, Samuel Cássio Ferreira, e sua esposa, sob a argumentação, pelo Itamaraty, de que esse tipo de documento pode ser concedido a pessoas “em função do interesse do País”, de acordo com o Decreto 5.978, de 2006.
E mais absurdos vieram depois. Na semana passada a mesma imprensa nacional publicou artigo da revista norte-americana Forbes, especializada em informações de riquezas bilionárias pelo mundo, dando conta das maiores fortunas dos pastores evangélicos brasileiros, como segue: Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus,  US$ 950 milhões, correspondente, aproximadamente,  a 2 bilhões de reais. Ele também é dono de várias empresas, como a Rede Record, o jornal Folha Universal e uma gravadora de música gospel, entre outras; Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, US$220 milhões, que chega perto dos 500 milhões de reais; Silas Malafaia, da Igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo, US$ 150 milhões, que ultrapassa os 300 milhões de reais; R.R.Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, US$ 125 milhões, uma fortuna superior a 250 milhões de reais; e Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo, US$ 65 milhões, superior a 130 milhões de reais.
O protestantismo brasileiro, mesmo com todas as suas fraquezas e múltiplas divisões, está longe de ser uma “empresa eclesiástica” como têm sido caracterizadas muitas das igrejas chamadas evangélicas em nossos dias.  Quão distantes estão elas da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo, - que dizemos ser o Senhor da Igreja – que afirmou ter vindo ao mundo para servir e não para ser servido e viveu peregrinando  pelos campos e vilas ajudando, gratuitamente, pessoas a reconquistarem a dignidade da vida. Quão lamentável que, em nome de Deus, líderes, donos de igrejas, acumulem fortunas espetaculares e se tornem tão poderosos que passem a merecer passaportes diplomáticos do governo brasileiro. Como entristece a alma saber  que o Deus da vida esteja sendo transformado no deus do mercado, no deus dos poderosos... evangélicos.

Salvador, Bahia, 25 de janeiro de 2012
Pr.Djalma Torres
torresdjalma@yahoo.com.br

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